Setor de Serviços do Rio tem queda muito acima da média do país

Segmento de hospedagem e alimentação desacelera 7,5% em agosto, a maior queda da série histórica iniciada em 2011.

Segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o segmento mais afetado foi o de hospedagem e alimentação (bares e restaurantes), que despencou 7,5% – a maior queda da série histórica desde 2011.

"Ao contrário da Indústria e do Comércio, que já apresentam taxas positivas, Serviços mantém taxas negativas desde abril de 2015, há 29 meses”, avaliou Sílvio Sales, consultor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE).

A PMS revelou ainda que o Rio de Janeiro teve desaceleração bem acima da média registrada no país em alguns segmentos e na comparação com agosto de 2016. A taxa do segmento de Serviços prestados às famílias caiu em agosto 30,7% no Rio contra -4,4% na média do Brasil, em comparação com agosto do ano passado. O mesmo acontece com Atividades Turísticas: -8,1% para todo o país contra -32,4% para o Rio.

"No caso do Rio de Janeiro, a severa queda nessa atividade parece combinar os efeitos de uma base de comparação mais elevada (consequência da realização das Olimpíadas em agosto do ano passado) ao fato de as atividades de bares e restaurantes, além da hotelaria, provavelmente estarem se ressentindo dos efeitos do aumento dos índices de violência no estado", detalhou Sales.

Quadro desolador

Atolado em um inédito caos econômico, político e social, o Rio de Janeiro tenta compreender como chegou à maior crise de sua história. O rombo do Estado neste ano, de R$ 22 bilhões, é resultado de uma combinação que inclui recessão econômica, retração nas atividades da indústria do petróleo, queda da arrecadação e déficit previdenciário. “A situação é falimentar”, diz o secretário da Fazenda, Gustavo Barbosa. A Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan) prevê que, mesmo com o plano de recuperação fiscal, o Rio viverá uma década de crise, só voltando a arrecadar mais do que gasta em 2029. Apenas em 2038 o Estado será capaz de pagar, integralmente, os juros e a amortização da dívida com a União.

A corrupção disseminada por toda a administração agravou o quadro. O procurador da República Sérgio Pinel, da força-tarefa da Lava Jato no Estado, diz que os desvios atribuídos pelas investigações ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e seu grupo político ajudaram a piorar a situação. “Quando você tem o Estado governado por pessoas que se pautavam por interesses particulares, isso acaba ensejando opções políticas que não são as melhores para a sociedade”, assevera.

Hoje falta dinheiro para o pagamento de salários dos servidores, para a distribuição de remédios na rede pública de saúde e até para o abastecimento de viaturas da polícia. Investimentos novos, nem pensar. E programas que foram vitrines, como as Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) e as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), estão à beira do colapso.

O tamanho do problema para o setor turístico fica claro quando se comparam os números do ano passado com este. A ocupação dos hotéis do Rio encerrou 2016 em 58%, ante 72% dois anos antes. Em maio deste ano, a ocupação média nos hotéis da capital foi de 38%. Na Barra da Tijuca — endereço da maior fatia dos novos apartamentos — foi de parcos 23%, segundo dados preliminares da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio (ABIH-RJ). É o desfecho de um casamento infeliz entre a expansão da oferta de quartos da cidade — que dobrou para 62 mil unidades — e a recessão.

Saídas e alternativas

Num esforço para driblar a crise, a hotelaria do Rio está focando nos cariocas com descontos, muitos descontos. “Vivemos uma situação em que é preciso trabalhar para equilibrar as contas, reinventar o negócio, criando novas demandas. Se não há o executivo ou o turista estrangeiro chegando, desenvolvemos atrativos para trazer o brasileiro e o próprio carioca”, explica Alfredo Lopes, presidente da Associação de Hotéis do Estado do Rio de Janeiro e do Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município. “Com a maior oferta de leitos, a ocupação e a receita dos hotéis despencaram. Daí o esforço para gerar receitas complementares”, acrescenta, destacando o esforço para construir um calendário de eventos e ações em parceria com o poder público para reativar o turismo, como o “Rio de Janeiro a Janeiro”.

Esse esforço já vem alcançando relativo sucesso. Já há hotéis de destaque em que um terço da receita vem de eventos de gastronomia e música. Shows de jazz com vista para a Baía da Guanabara, benefícios para ‘vizinhos’, festivais gastronômicos, parcerias com marcas premium, vale tudo para reequilibrar as contas.

O Hilton Barra, por exemplo, criou o ´Clube Sou Vizinho´, que garante descontos e benefícios para quem mora na Barra, Recreio ou Jacarepaguá. Em um mês e meio, já são 350 associados. Eles pagam menos em programas como a feijoada do hotel ou mesmo por um day use, que dá direito a usar as facilidades do hotel por um período. A demanda pelo café da manhã no fim de semana subiu 35%.

Luz no fim do túnel

Diante desse cenário assustador, em que os restaurantes que não fecharam viram suas margens de lucro passarem de 30% para 2,5%, os empresários do setor estão adotando medidas para reequilibrar as contas. E isso pode vir a ser um presente para quem conseguir sobreviver. Afinal, muito do que vem sendo feito como medida de emergência poderá vir a ser incorporado ao dia a dia depois que a crise for superada.

A maior parte dos esforços se concentra na redução de despesas como uso consciente de água, luz e gás, lavanderia, renegociação com fornecedores e organização de equipes mais eficientes. Muitos profissionais de restaurantes estão se reunindo para discutir ações conjuntas, como compras coletivas.

Se a economia reagir, como parece que acontecerá caso não surjam outros Joesleys & Wesleys, e se essas iniciativas forem incorporadas, o Rio poderá até sair mais forte e maduro do que entrou nessa tormenta.

Saravá, meu pai!


Fonte: Assessoria