A tecnologia já reconhece nossas emoções!

Por Vanessa Martin
Poppy Crum

Você sabia que nossos sentimentos são transmitidos o tempo todo por inúmeros sinais biométricos e químicos que podem ser rastreados através da tecnologia?

Acredite, é verdade. Nós transmitimos assinatura química das nossas emoções, e ela pode ser detectada através de diferentes sensores que olham, escutam e registram estes nossos sinais e manifestações. Desta forma, algumas tecnologias existentes já podem analisar e entender sobre nosso estado interno, e conseguem saber mais de nós do que nós mesmos.

Em visita recente ao Brasil, como palestrante no Campus Party e LAMEC 2019, Poppy Crum envolveu as plateias ao mostrar parte das pesquisas que vem desenvolvendo e alguns dos impactos que elas poderão ter na nossa vida diária, também relatadas nos principais pontos da entrevista exclusiva que concedeu ao Portal Eventos.

Poppy Crum na Campus Party
Ela é Cientista Chefe da Dolby Laboratories nos Estados Unidos onde é responsável pela integração da neurociência e da ciência de dados sensoriais para dentro do design de algoritmos, do desenvolvimento tecnológico e da estratégia de tecnologia. Já foi nomeada pela Billboard Magazine entre as 100 executivas mais influentes na indústria da música. Estuda há mais de 20 anos a fisiologia humana e o estado interno das pessoas através de tecnologias que associam sensores a este aprendizado.

Podemos afirmar que você é, hoje, uma pessoa diferente do que era no passado, independente da sua idade, posição social, sexo, religião, profissão ou local onde mora. Cada um de nós está mais consciente da sua vida, do seu corpo e dos seus direitos, de saber que sua voz pode ser escutada mesmo pelas empresas multinacionais. Sabemos que podemos fazer a diferença na vida de muitos, ter acesso a conhecimento irrestrito e de qualidade, a nos comunicarmos com poucos e com todos ao mesmo tempo. Tivemos, temos e teremos mudanças significativas em sua vida e com impacto de reverberação exponencial. E o ciclo desta fantástica transformação é perene, ou seja, veio pra ficar e está em constante evolução.

A força propulsora de todas estas transformações está na tecnologia, desde a sua mais ampla concepção, até nas soluções mais específicas e pontuais. Ela é universal e abrangente, impactando a vida de tudo e a todos, mesmo para aqueles que acreditam que não entendem nada ou muito pouco sobre ela.

Poppy Crum
A nova fase das transformações impostas pela tecnologia é ainda mais revolucionária, pois ela consegue registrar e entender a assinatura química das nossas emoções. São inúmeros exemplos de como isso é feito, tais como as imagens térmicas geradas por infravermelho que podem indicar o nível de exigência real do nosso cérebro, revelar mudanças em nosso estresse e humor ou ainda dimensionar o quanto estamos engajados e concentrados naquele momento.

Até mesmo a composição química da nossa respiração pode revelar nossas emoções. Durante um evento, mesmo sem mudanças perceptíveis no comportamento da plateia, sensores específicos podem registrar e identificar instantaneamente o humor dos participantes, uma vez que, quando o coração acelera, há alterações na mistura de acetona, isopreno e dióxido de carbono presentes na nossa inalação e expiração.

Aspectos como a dinâmica do tempo da nossa fala e linguagem e as mudanças na voz captados por microfones, podem alterar coloração do seu espectro e, entre outros, auxiliar na previsão sobre a nossa saúde mental e física. “Nós escutamos nosso corpo por centenas de anos usando auscultação e estetoscópios. Agora, os dispositivos têm a capacidade de nos ouvir com percepções muito mais ricas sobre nossas doenças mental e física, oferecendo oportunidades de diagnóstico e intervenção precoce”, diz. Crum ainda explica que, doenças como a demência, o Alzheimer e a diabete podem ser detectados década antes do diagnóstico clínico convencional.

Poppy Crum
Crum acredita que estamos na Era dos Empáticos, onde a tecnologia, através das pesquisas que estudam o cérebro humano para entender como experienciamos nossas percepções e experiências, pode desenvolver a empatia, ou seja, poderá compreender as nossas emoções e sentimentos, como mostrado nos exemplos acima. E que a tecnologia empática transformará a forma como nos relacionamos uns com os outros e aos locais com trabalhamos, treinamos, curamos e vivemos. “Nosso corpo irradia nossa história. Estamos entendendo a experiência de alguém de uma forma que nos permite conectar-nos em um contexto mais rico. Muitos sinais biológicos, que podem ser capturados, dizem sobre a interação humana. E o sucesso da transformação de dados não é apenas o que pensamos que dissemos, mas uma experiência humana não cognitiva. E podemos conseguir isso em tempo real”, avalia.

Ela afirma que os dados dos eventos estão cada vez mais fáceis de serem rastreados. “Acho que há um enorme poder, não apenas em rastrear os dados, mas também para entender o sucesso do seu evento ao reunir pessoas e criar um ambiente que tenha um impacto duradouro. Se você está tendo uma experiência poderosa em um evento ou talvez em um concerto onde há coletores instalados, estamos obtendo informações que nos transformam, estimulam e excitam algumas capacidades, nossos cérebros estão se tornando mais coerentes juntos”.

Ela recomenda, fortemente, que se use mais de uma tecnologia para a coleta das informações no evento, ressaltando que a coleta é fácil, pois já há inúmeras maneiras de capturar os dados necessários. O foco, e o que importa, é a análise dos dados e a compreensão dos múltiplos significados possíveis: “Se você realmente quer se conectar com as pessoas em um nível poderoso e ter ajuda para entender quantas estratificações, diferenças demográficas e grupos-alvo são necessárias, é mais rico encontra-los assim do que de outra forma”.

Crum diz trabalhar para preencher a lacuna entre a tecnologia e a interação humana insightful e eficaz, construindo tecnologias que aproveitam a fisiologia humana para aprimorar nossas experiências e a maneira como interagimos com o mundo. Entre as novidades sendo desenvolvidas pelo mercado, a tecnologia focada na neuroplasticidade, nos tornará mais velozes, com recuperação mais rápida, audição mais aguçada, visão mais definida e pensamento mais eficaz.

Mas, como acontece com tudo que é novidade, este cenário pode conter pontos positivos, mas também negativos. Muitos tem atração pela ‘Síndrome do Poker Face’, ou ‘Síndrome de Cara de Poker’, através da qual evitamos que os parceiros deste jogo percebam nas nossas reações físicas durante a rodada de cartas. Alguns podem ficar arrepiados com a transparência total das suas emoções, ou ainda questionar os aspectos envolvendo o respeito à privacidade individual. São possibilidades reais que precisam ser consideradas ao analisarmos estas mudanças.

É o fim do “Poker face?

Talvez o mais importante seja entender que a tecnologia não é o fim, mas o meio através do qual são criadas soluções voltadas PARA as pessoas. Independente da sua aplicação ou abrangência. E os exemplos são infinitos e pipocam ao nosso redor constantemente.

Para os profissionais do mercado de eventos, há ainda várias questões e desmembramentos que precisam ser atentados e refletidos antes de um posicionamento final sobre o assunto. Um dos melhores profissionais da área no país, Juan Pablo de Vera, CEO do Grupo R1, chama nossa atenção para alguns deles. Ele compartilha da opinião de Crum quanto à facilidade atual de capturar dados dos participantes através de diferentes devices e também quanto aos graves problemas que podem residir na análise, no uso e na divulgação dos resultados. Em várias frentes. E durante todo o processo, ou seja, desde a captura dos dados, passando pelo seu manuseio, e até o seu armazenamento e utilização. Vários pontos se somam à estas referências, como à privacidade das pessoas, os aspectos legais (como a LGPD), o risco de, inadvertidamente, capturar dados de concorrentes, entre vários outros.

E aponta ainda outro lado da questão, envolvendo data e cliente. O volume avassalador de informações que passam a ser geradas, oferecem também dados e insights muito específicos sobre a audiência dos eventos, podendo oferecer métricas mais precisas do que nunca para o ROI e ROO, entre outros. Será que os profissionais da área e os clientes estão preparados para ter e entender por completo este tipo de tomografia computadorizada digital e on time dos seus eventos? Estarão capacitados para lidar com este novo formato de relacionamento com clientes, seus concorrentes e participantes?

Escutar e conversar com pessoas como Crum e De Vera traz a estranha sensação de que o futuro que se esperava ter em alguns anos já se tornou realidade. E ele é muito mais complexo do que se poderia imaginar. Mas só há um caminho a seguir: entender as possibilidades, abraçar as mudanças e extrair delas o que elas têm de melhor a oferecer para cada stakeholder!

PARA SABER MAIS:

POPPY CRUM 1 - POPPY CRUM 2 - POPPY CRUM 3

DAVIDSON, Richard. ‘A base de um cérebro saudável é a bondade, e pode-se treinar isso’ – Richard J. Davidson. 

How to use AR and VR at your events – Whiteboard Wednesday

Vanessa Martin


 





Vanessa Martin

Consultora, autora e docente