SXSW: experiência de disrupção que muda o curso da criatividade

Por Natasha de Caiado Castro

Em meus 32 anos organizando eventos onde tudo é “eventual”, são poucas as certezas que persistem. Uma máxima é: sair da zona de conforto dói. Gera insegurança e assusta clientes, mas atrasa envelhecimento intelectual; a maior toxina para quem trabalha nesse nosso setor de MICE.

Todos os anos, vou a SXSW - South by South West, festival de inovação que acontece em Austin - Texas, coordenar as ativações dos clientes, e sempre tomo um choque. Conto aqui um pouco do que vi por lá.

Tudo começa pelo tema “Keep Austin Weird” - "Mantenha Austin Esquisita". Uma piada bem humorada criada para dar suporte ao comércio local. Também porque texanos tradicionalíssimos veem Austin, o polo de inovação que vem dividindo atenção com o Vale do Silício, como “maluquinhos”.

A cidade recebe 75 mil pessoas em seus 10 dias de festival. Tudo em volta de Austin se transforma. Todas as esquinas viram fonte de inspiração. Bandas independentes tocando em todos os espaços, até lojas de materiais de construção. Pirulitos de maconha vendidos livremente como “happy lollypop”. Lançamento de filmes de Hollywood e independentes do Iran disputam a atenção.

São cerca de 5000 eventos simultâneos, entre shows, palestras, lançamentos e muitas outras coisas. Uma explosão de formas de inspiração para fugir do convencional, sem necessariamente explodir o budget do evento.

Bom, é necessário fazer uma curadoria do que ver, certo? São mais de 2000 palestras, todas com horários sobrepostos.

Escolhi a linha de marketing de experiência. O que isso significa precisamente em um festival de inovação? Tudo! Tudo gera experiência e caí na armadilha de querer acompanhar muitas coisas ao mesmo tempo

Passo para vocês alguns dos momentos que podem ser aplicados em organização de eventos. Primeiro, a organização. Tem muita fila, mas somente na troca de público entre as palestras. As filas são longas, às vezes tomando três andares na extensão do centro de convenções. Mais de 5 mil pessoas. Mas em 15 minutos, todos estão dentro das salas. Planejamento de fluxo.

Como escolher as palestras? Pode ir no “seguro” e escolher uma das grandes salas, que tem artistas como Gwyneth Paltrow, que contou como mudou de profissão, abrindo a marca Goop. Congressistas, cantores e fundadores de grandes empresas como Instagram e Starbucks.

Mas você pode ser arrojado e arriscar as palestras sobre telepatia, feita pela NASA, ou como criar ecossistemas de business não tradicionais, como criação de abelhas. Inteligência virtual e realidade virtual utilizada para o bem. Pessoas podem se colocar em situações adversas, como a de cadeirante ou de vítima de violência sexual, em campanhas de conscientização.

Um assunto muito discutido foi confiabilidade generalizada, que está em baixa. Pessoas não confiam em tecnologia e não estão mais confiando em marcas. Vários cases com teorias de como reverter o cenário.

Contadores de histórias (storytelling) foi outra horizontal. Como contar a historia de forma que seja bem entendida e recebida com dicas desde especialistas em comunicação, design, marketing, até roteiristas e cineastas, cantores e cientistas.

Um case apresentado muito bacana foi o do estado produtor rural de Wisconsin, que chegou com mais de 200 queijos para degustação em sala colorida com elementos lúdicos. Criando a marca/brand de produtos de Wisconsin. Mesmo esforço que já tinha sido feito no passado pelas regiões de Champagne, na França, e Porto, em Portugal.

Outra ação que chamou muito a atenção foi uma ONG que cuida de preconceito contra imigração, ex-presidiários e eleitores. Na ativação tinha palco para shows e debates, brindes como camisetas e bottons para pessoas se posicionarem oficialmente. E o mais legal: você podia montar seu próprio bottom, levantando a bandeira que mais te toca, fazendo com que as pessoas se posicionem e não tenham medo de se expor.

Accenture












A Accenture usou da realidade virtual para chamar a atenção do público de SXSW. Na experiência, as pessoas usam os óculos de realidade aumentada, estabelecem novos sentidos e o que podem desenvolver a partir disso.


Para nós, que trabalhamos com eventos, o que mais chama a atenção (e que os publicitários não me ouçam) é que nós, organizadores, estamos na hora certa e no lugar certo.

Empatia foi o grande tema do evento e tendência percebida para o futuro. Traduzindo: para haver empatia, é necessário interação, certo? Ou seja, as verbas de publicidade estão migrando para experiências, resumindo, eventos. Nós que tivemos por décadas vivendo na corda bamba da flutuação da economia.

Natasha de Caiado Castro

A primeira área cortada sempre foi a nossa, certo? Agora com a humanização da comunicação, criação de comunidades, engajamento, direcionamento quase que individualizado de mensagens corporativas, passamos como organizadores de eventos, a ferramenta estratégica corporativa.

Nos cabe agora organizar a prática, as regras, o mercado e profissionalizar, sem nunca perder a ternura!

SXSW é um turbilhão, um furacão que passa e tira todas as certezas do lugar. E passamos o resto do ano tentando amarrar os pontos em um cenário mais criativo e disruptivo.

Natasha de Caiado Castro

CEO of Wish International Events Management