Só Falta Combinar Com Os Russos!

Por Rui Carvalho
Rui Carvalho
Bater em quem está por baixo ou em desvantagem nunca foi uma atitude nobre. Desde pequenos aprendemos a valorizar o
fairplay, a temperar as vitórias com uma pitada de altruísmo. Cai bem. É coisa de quem sabe respeitar o adversário, de quem aceita que a vida é um círculo, e que se estamos batendo hoje, poderemos estar apanhando amanhã. Paralelamente, também é da natureza humana, criticar, espezinhar, tirar vantagem de situações favoráveis em detrimento dos opositores. Pois é, o bullying não é coisa nova, muito menos privilégio de adolescentes rebeldes. Não devia ser assim, mas ninguém disse que o ser humano é perfeito, disse? 

Fiz esta introdução para estabelecer o clima que provocou a análise de certos comportamentos que tenho visto, principalmente nas redes sociais, desde que a senhora presidente iniciou seu segundo mandato e revelou a face mais escura de uma política que já deu o que tinha pra dar. Parece que uma deliciosa onda de revanchismo tomou conta no país. Desta vez é a oposição, que passou doze anos acuada, perdida, dando voltas em torno do próprio rabo, que resolveu partir para o "quanto pior, melhor". Desde que o governo passou a fazer tudo aquilo que disse que não faria, tem sido um tal de apontar o dedo, que até parece piada pronta! Esquecemos que treino é treino e jogo é jogo, ou que eleição é eleição e governar é governar. Tanto faz. É claro que os mais alinhados com estas coisas da economia e da política nunca acreditaram numa palavra do que dizia a senhora candidata Dilma Roussef, quando bradava aos quatro ventos: "não vou mexer nos direitos do trabalhador nem que a vaca tussa", pois é, tossiu! Outras vezes afirmava algo como "reformar é coisa de tucano", tentando passar a ideia de que a oposição é que gostava de mudar tudo o tempo todo, mas que ela, não, com ela tudo estava firme e nada seria alterado naquele Brasil de sonho que aparecia nas propagandas do partido. Houve tantas outras coisas que ela disse que não faria e fez, que somos levados a concluir que Dilma parece ter caído de pára quedas no Brasil real. Foi um Deus nos acuda. Chovem críticas de todos os lados, mas calma lá, também não é bem assim! Uma coisa é apontar a incoerência de Dilma,  a distância entre teoria e prática, reconhecer as pedaladas eleitorais que a candidata deu em favor da PresidentA, pois isso só prova o inesgotável pragmatismo político do PT. Outra coisa, bem diferente, é fazer oposição às recentes medidas proclamadas pela equipe do governo, ou criticar sua adoção apenas por serem medidas que, supostamente, a candidata disse que não tomaria. Isso é desfaçatez, desprezo pela política séria. 

Pois é isso que se tem verificado, principalmente nas redes sociais e, o que é pior, nos discursos raivosamente proferidos da tribuna do Congresso Nacional. Mas isso tem nome: hipocrisia e oportunismo. Podemos e devemos criticar Dilma pelo estelionato eleitoral estabelecido no seu discurso de candidata. Mas não podemos nem devemos criticar as medidas técnicas que todos sabemos serem urgentes e necessárias para recolocar o Brasil nos trilhos. São medidas duras, impopulares, algumas ainda insuficientes ou de resultado duvidoso, mas é hipocrisia achar que temos a obrigação de criticá-las só por estarem sendo adotadas por um governo que disse que não as adotaria! Isso é agir na contramão dos interesses do país, é fazer oposição por oposição, é escurecer ainda mais o lado mais escuro da política. Se o PT tivesse perdido as eleições, Aécio teria tomado essas e outras medidas impopulares, pois elas são necessárias, e toda a oposição aplaudiria. A diferença é que ele nunca escondeu isso de seus eleitores, numa demonstração de honestidade eleitoral. Quem acompanha mais de perto as mazelas da economia brasileira, e tem noções básicas de macro economia, sabia que o discurso da candidata Dilma não passava disso mesmo: discurso! Mas também sabia que, qualquer que fosse o eleito, para encontrar o caminho da recuperação econômica do país, precisava tomar as medidas que agora são objeto de crítica! Posso estar sendo ingênuo, e ser acusado de não conhecer os desvãos da política partidária, mas, ainda sei distinguir o que é causa e efeito, o que é discurso eleitoreiro e o que são medidas saneadoras, por mais duras e impopulares que possam parecer. E tem mais: o Brasil ainda vai piorar antes de melhorar.

O melhor resultado que tivemos nestas eleições foi exatamente a queda definitiva da máscara de idoneidade do PT. Percebemos que boa parte do Partido não passa de um grupelho de aproveitadores, capazes de tudo para levar a cabo seu projeto de poder. Isso não pode ser esquecido, e estão aí os inacreditáveis índices de (im)popularidade da Presidente para provar que a maior parte da população aprendeu a lição. Mas agir como muitos deputados da oposição, inclusive do PSDB, que fazem de tudo para sabotar as medidas de ajuste, como se elas fossem o mais completo absurdo, esquecendo-se de que, meses atrás, esses mesmos deputados as defendiam como solução para o país, isso sim, é hipocrisia, é populismo, é estelionato parlamentar! Não será estuprando a razão e o bom senso que tiraremos o Brasil da crise. A política do "quanto pior, melhor", antes um ativo do PT, não pode, em nome da popularidade, tornar-se aceitável da noite para o dia, como se só fosse errada quando professada pelos outros. Ao agir assim, a oposição só prova que não é tão diferente do governo. Ao tentar surfar na onda da insatisfação popular para boicotar medidas de que o Brasil tanto precisa, a oposição está dizendo ao eleitor que não merece o seu voto, e que ninguém em Brasília está preocupado com o futuro do país! Nesse caso, fico me perguntando, depois de tanto lutarmos para que o Brasil tivesse uma chance, tentando eleger um grupo diferente do que ocupa o poder nos últimos doze anos, será que perdemos mesmo muita coisa com a derrota de Aécio? Ao que parece, em Brasília, entra legislatura, sai legislatura, e as coisas continuam iguais. Cada um só defende seus próprios interesses, como se o Brasil se limitasse aos salões suntuosos do Congresso Nacional. Ou seja, é mais do mesmo, o que é uma pena, pois ainda há quem acredite que as coisas podem mudar de verdade. Como dizia Garrincha, agora só falta combinar com os Russos!