Somos invisíveis. Fomos ignorados.

Se deseja deixar de ser ignorada, a indústria de eventos e turismo precisa se fazer visível para todos seus stakeholders, em especial os políticos e a imprensa.

Somos invisíveis. Fomos ignorados.

A pandemia que nos assolou além de muita dor e sofrimento, também solapou os alicerces da indústria de eventos e turismo. Vindos de um ano excepcional, com prenúncios de anos ainda melhores, estávamos a 150 km/hora e a freada brusca, sacolejou, desconjuntou toda nossa indústria.

E foi quando descobrimos que somos invisíveis. Ninguém, muito menos o Governo, conhece nossa importância, seja como motor da economia, seja como geradores de empregos. Fomos deixados à deriva. Tivemos que aprender aos trancos e barrancos a juntar nossos cacos, nos unir para ir atrás de nossos direitos.

Os esforços foram grandes, mas invisíveis que éramos, as dificuldades se multiplicaram. E, assim, muitos bons profissionais desistiram e buscaram novos desafios e muitas empresas não suportaram e fecharam suas portas.

Nossa invisibilidade é tamanha que semana passada, pesquisando para selecionar em quem votar para vereador, consultamos o Quem Eu Escolho, site do G1, que lista todos os candidatos, informando seu Gênero, Ocupação, Grau de Instrução, Partido, Área de Atuação e sua Bandeira. Dentre as bandeiras, selecionamos Turismo e qual foi nossa surpresa quando descobrimos que dentre os 1956 candidatos a vereador em São Paulo, apenas TRÊS tinham o Turismo como uma de suas bandeiras. Ou seja, pouco mais que um milésimo.

Pensamos, eles não acham São Paulo uma cidade turística, e fomos conferir cidades conhecidas como sendo turísticas. No Rio de Janeiro, certamente o resultado seria melhor. Infelizmente, não! Apenas 12 dentre os 1728 candidatos apontaram o Turismo como uma de suas bandeiras. Insistimos, Recife: apenas 5 dentre 825 candidatos. Enfim, pesquisamos mais 5 cidades em que as Bandeiras de Campanha são citadas: Curitiba, João Pessoa, Goiânia, São Luis e Campo Grande. Encontramos 8.976 candidatos e somente 44 apontaram o Turismo como uma de suas bandeiras. Ou seja, apenas meio milésimo dos candidatos a vereador tem o Turismo como Bandeira.

Somos invisíveis. Fomos ignorados.

Chegou o dia da eleição. A Veja São Paulo trouxe uma ampla reportagem com os candidatos a Prefeito na cidade de São Paulo: “Propostas dos Prefeituráveis para 12 Temas Relevantes”. Dada a importância da indústria de eventos e turismo para a Capital paulista, certamente, seríamos um dos temas relevantes. Só que não. Mais uma vez, esquecidos, invisíveis.

Voltamos para 2018, talvez o resultado fosse melhor. Conferimos os candidatos a Deputado Federal. Começamos novamente por São Paulo: dentre os 1624, apenas 5 tinham como bandeira o Turismo. Amazonas, o Pará e o Ceará, ZERO candidatos; Mato Grosso do Sul, Maranhão e o Espírito Santo, apenas um; Bahia, Pernambuco e Minas Gerais, apenas dois candidatos; Alagoas, Rio Grande do Norte e Santa Catarina, apenas três candidatos. O único ponto fora da curva é o Rio Grande do Sul, com oito candidatos a deputado federal que apontaram o Turismo como bandeira, ainda assim muito pouco. Nestes 15 estados com vocação turística marcante, apenas 40, dentre os 6566 candidatos a deputado federal. Ou seja, 0,06 por cento dos candidatos apontaram o Turismo como uma de suas bandeiras.

Somos invisíveis. Fomos ignorados.

A consequência do descaso dos candidatos a Deputado Federal acarreta que dos 30 deputados titulares e suplentes da Comissão de Turismo da Câmara Federal, apenas 3, isso mesmo apenas três assinalaram ter interesse no Turismo quando se candidataram. Ou seja, a Comissão de Turismo é constituída de meros paraquedistas. Mas, são eles que têm a importante missão de contribuir com o trabalho legislativo voltado para o progresso do turismo, levando ao mundo a imagem de um Brasil próspero e desenvolvido, responsáveis também pela política e sistema nacional de turismo; exploração das atividades e dos serviços turísticos e colaboração com entidades públicas e não-governamentais nacionais e internacionais, que atuem na formação da política de turismo. São eles que analisam e aprovam, ou não, muitos de nossos pleitos.

Mais duas amostras da invisibilidade do setor: o Maiores e Melhores 2020, da revista Exame, analisa os 23 setores da economia brasileira. Turismo, eventos e entretenimento não são sequer mencionados. Assistindo aos debates dos candidatos a prefeito de São Paulo, em nenhum momento turismo, eventos ou entretenimento foram mencionados pelos candidatos ou pelos jornalistas encarregados dos questionamentos.

Somos invisíveis. Fomos ignorados.

Na pandemia foi um salve-se quem puder, todos buscando caminhos que nos salvassem. Antes dispersos, cada um por si, viu-se que a união dos esforços era imprescindível, criou-se o G8, o G20 que virou G20+ e a Câmara Brasileira da Indústria de Eventos. Todos tentando mostrar a relevância de nossa indústria e buscar soluções para aliviar nosso sofrimento. A curto prazo, alguns resultados foram obtidos. Poucos. Mas, continuamos invisíveis. Nenhum candidato a Prefeito de São Paulo aceitou convite para debater conosco.

Menos ego, mais eco. Ou o setor se reencontra consigo mesmo, fazendo com que a realidade vivida altere a narrativa oficial e passe a comandá-la, ou ficará para trás definitivamente na história. É preciso somar todas as forças da indústria de eventos e turismo para um trabalho consistente, contínuo, persistente, para demonstrar sua relevância, seu protagonismo. Precisamos mostrar para todos os stakeholders que somos o motor da economia nacional, a maior universidade do mundo e um gigantesco gerador de empregos.

A expectativa é que lideranças conscientes assumam essa bandeira e transformem o sonho em projeto real.