O legado da Copa do Mundo para a hotelaria gaúcha

Na avaliação do presidente do Conselho de Turismo da CNC, Alexandre Sampaio, o atendimento nos meios de hospedagem foi bem avaliado e a questão do preço ficou superada.
Seleção do Equador no Hotel Vila Ventura



Estudos e análises feitos por especialistas apontaram os benefícios, principalmente os econômicos, de um mega evento como a Copa do Mundo para o Brasil. Questionamentos à parte, na hotelaria as opiniões se dividem. Na avaliação do presidente do Conselho de Turismo da CNC, Alexandre Sampaio o atendimento nos meios de hospedagem foi majoritariamente bem avaliado e a questão do preço ficou superada por um realinhamento das diárias dos quartos disponíveis reofertados.

O impulso dado nas reformas, ampliações e construções de novos meios de hospedagem, segundo ele, agora terá que ser seguido por uma política conjunta dos Conventions Bureau e Secretarias de Turismo Estaduais e Municipais. “Precisamos manter um nível de ocupação condizente com esta nova capacidade instalada”, diz ele.

Confirmando o fato, o presidente do Porto Alegre Convention Bureau, Fernando Kazuo Kanbara acrescentou que isto poderá se realizar graças ao fato dos turistas terem experimentado serviços de muito boa qualidade, seja nos hotéis, como em restaurantes, shoppings e aeroportos. “A nossa marca foi positiva, principalmente no aspecto do bem receber, da receptividade”.

O dirigente também destacou a valorização da cultura gaúcha. “Tivemos de reaprender a dar mais valor para a nossa cidade, pois os visitantes queriam ter experiências e vivenciar nossa cultura. Isto revela que também podemos ter uma vocação para o turismo de lazer, e não só de negócios”, completa. Ele aponta a segurança como outro destaque deixado pela Copa do Mundo. “Não tivemos nenhuma manchete negativa que manchasse a reputação da hotelaria de forma geral”.

Único hotel a receber uma seleção no Rio Grande do Sul, o Vila Ventura, em Viamão, marcou um gol no quesito visibilidade. “Mesmo que a seleção do Equador tenha permanecido no nosso estabelecimento por apenas 18 dias, recebemos a imprensa e a divulgação foi muito intensa, tanto aqui como lá fora”, comemora o proprietário do estabelecimento, Samuel da Silveira.

Baixa procura na serra

Na serra, a avaliação segue a mesma linha. Para Fernando Boscardin, presidente do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares e Similares da Região das Hortênsias (SHRBS/RH), o aprendizado que fica é o de sermos capazes de medir melhor se os grandes eventos realmente impactam nos negócios e quais são as reflexões deixadas para todos os brasileiros. “Houve as melhorias em infraestrutura prometidas que todos esperavam? O custo versus o benefício do evento foi vantajoso para a maioria dos brasileiros? A imagem que projetamos para a imprensa estrangeira foi aquela que queríamos como nação? As respostas a estas perguntas talvez sejam o maior legado que o evento deixa aos brasileiros”, complementa ele.

João Antonio Leidens, presidente do SHRBS Região Uva e Vinho reforça que o destino recebeu um fluxo de turistas, mas algo bem tímido se comparado aos números do evento. “Durante a realização da Copa há uma mudança de comportamento e normalmente a taxa de ocupação é menor na região. Mas como o evento ocorre no Brasil, a expectativa é manter no mínimo uma média de 50%, pois há coincidência de datas com o feriado de Corpus Christi e também por ser uma época de alta temporada”, revela ele.

Lições na administração

Samuel, do Vila Ventura, elogia toda a organização da Fifa e a obrigatoriedade no cumprimento de tarefas e de horários. E tamanho rigor, conta o empresário, acabou servindo de treinamento na gestão hoteleira para todos os colaboradores do seu hotel em Viamão. “A federação internacional é uma empresa hiperorganizada, bastante exigente na questão segurança, disciplinar e na prestação de serviços, buscando a excelência. A fim de cumprir todas as regras nós tivemos de ser mais zelosos e cuidadosos, muito mais do que somos por aqui, pois fomos avaliados o tempo inteiro”, revela.

Segundo Kanbara, que também é gerente geral do Mercure Porto Alegre Manhattan, o grande aprendizado – e desafio – de quem trabalha com o setor foi o de receber ao mesmo tempo clientes oriundos de várias partes do mundo. Já o Diretor de Operações e Marketing da rede InterCity, Marcelo Marinho reforça que passar por um evento tão grande foi uma lição em relação a aspectos relacionados ao comportamento de compra, preços e políticas.

Mas o executivo faz críticas em relação às reservas, que demoraram a se confirmar. “As cidades médias e o Rio de Janeiro se beneficiaram muito, mas a grande surpresa foi São Paulo, que ficou muito aquém das expectativas”. Marinho completa ao frisar que os números de visitantes estrangeiros ainda são pequenos. “Esperamos que o mundial mude isto e produza uma melhor imagem do país como destino, porque na realidade o que move a hotelaria urbana é o turismo de negócios doméstico”.