Belo Horizonte & Ouro Preto

O sol começa a se esconder entre as montanhas que cercam a cidade. Vista do alto da Praça do Papa, a capital mineira ganha tons alaranjados ao entardecer. Na lagoa da Pampulha, seu expressivo conjunto arquitetônico desenha traços sinuosos que se refletem na água. A primeira cidade planejada do país nasceu há 105 anos sob o sol de ouro das Minas Gerais. Tornou-se capital do Estado no século XIX, ocupando o lugar da histórica Ouro Preto. Ao longo de mais de um século, beagá, ou belô, como é carinhosamente chamada, cresceu e se desenvolveu num ritmo incessante, transformando-se numa das principais capitais brasileiras e, destacando-se, ainda, como importante destino para eventos. Belo Horizonte é uma verdadeira caixa de ressonância do jeitinho mineiro de ser, de falar, de cultuar suas tradições históricas, de exaltar sua rica cultura, sua modernidade e, claro, sua invejável culinária. Ao chegar a esta capital, deixe-se envolver por uma boa conversa mineira - os mineiros se orgulham, com razão, de conhecer muito a sua história. O papo. pode ir da cultura ao futebol - qual é o melhor: Atlético ou Cruzeiro? Só pergunte se tiver muito tempo para papear. Caminhando pela charmosa Praça da Liberdade, a conversa sugere um olhar sobre o conjunto paisagístico e arquitetônico local. Do banco da praça à mesa do bar, que são muitos e servem uma infinidade de marcas de cachaça, ficamos sabendo mais sobre a Pampulha, com seus museus e parques, sua moderna arquitetura, renomados poetas, escritores, músicos e artistas mineiros. E, nos últimos tempos, um novo tema entusiasma os mineiros: a indústria de eventos. A "cidade dos serviços" se prepara para receber mais eventos - Com 82% de sua atividade econômica baseada no setor de serviços, e reconhecidamente um pólo econômico que não depende apenas de grandes indústrias, os setores terciários, como o turismo e eventos, se destacam no cenário da economia local. "Belo Horizonte tem um enorme potencial para se transformar na grande capital de eventos e negócios da América do Sul", ressaltou o governador, Aécio Neves, ao anunciar o reinicio da ampliação do Expominas. A obra faz parte do projeto do governo estadual de investir na infra-estrutura para transformar BH em referência para o turismo de eventos e negócios no país. A iniciativa do governo inclui também a ampliação e modernização do aeroporto da Pampulha, e a duplicação da Avenida Antônio Carlos, que liga o aeroporto ao centro. Como uma cidade que preserva e promove a cultura, a capital mineira já é destino tradicional de eventos importantes como o FIT-BH (Festival Internacional de Teatro), Encontro Internacional de Literatura, Festival de Teatro de Bonecos, FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos), FID (Fórum Internacional de Dança) e Festival do Circo. Outros eventos, feiras e congressos, também se destacam no seu calendário, entre os quais o Expo Cachaça, Boa Mesa BH, Casa Cor BH, Gestão do Futuro, MultiMinas, Mec Minas, BH Shoes, Circuito BH de Moda, Super Minas, Mostra Têxtil Brasil, Feira dos Imigrantes, Carna Belô, Arraiá do Merit e o Fórum Social Brasileiro, que acontecerá pela primeira vez no país, no mês de novembro. Para o secretário de Estado de Turismo, Aracely de Paula, "o nosso objetivo é fomentar o turismo de eventos em Minas e capacitar o estado para concorrer dentro do mercado nacional e internacional de feiras e congressos". Para tanto, ressalta, "a secretaria está trabalhando no Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo de Minas Gerais (PEDTEMG), financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), visando elaborar um plano de acordo com as ações traçadas pela política nacional de turismo e pelo governo estadual". Já o presidente da Belotur, Manoel Costa, destaca que a missão do órgão municipal é atuar como indutor do desenvolvimento econômico, promovendo a cidade como destino de turismo de eventos, negócios e lazer. "Mas a ação da empresa vai mais além. A Belotur está presente em todos os acontecimentos da cidade, interagindo com os organizadores das atividades turísticas e culturais, visando o bem estar do turista e das pessoas que vivem em Belo Horizonte". Muitas qualidades e uma carência - A lista de espaços para eventos em Belo Horizonte é grande e variada. Já são mais de 60, entre centros públicos e privados, dentro e fora de hotéis, No entanto, em sua maioria, são espaços de pequeno e médio porte. Entre os mais tradicionais (veja matéria Espaços Tradicionais) estão o Minascentro, Serraria Souza Pinto, Casa do Conde, Casa do Baile, Expominas, Palácio das Artes e o Sesc Venda Nova. Em hotéis, destacam-se a novíssima área de eventos do Mercure, as inúmeras salas do Othon Palace, os auditórios do Grandarrell, Ouro Minas, Merit, Liberty e San Diego. Já, entre os centros de convenções mais novos estão, o Marista Hall, Luminis, Séculus, Niágara, Centro de Convenções LifeCenter e o Campus Aloysio Faria da Fundação Dom Cabral. (veja matéria Novidades). Mesmo com essa respeitável infra-estrutura, a cidade ainda carece de um grande e moderno centro de feiras e convenções, com um auditório para mais de cinco mil pessoas que possibilite a realização de feiras e congressos nacionais e internacionais de grande porte. De acordo com o I Dimensionamento Econômico da Industria de Eventos, publicado em 2002 pelo Sebrae Nacional em parceria com a Federação Brasileira dos Conventions & Visitors Bureau, no ano de 2001 aconteceram em Belo Horizonte 3.750 eventos, com a participação de 4,18 milhões de pessoas, das quais 1,3 milhão, turistas. Esse movimento representou naquele ano 6,7% do PIB (Produto Interno Bruto) da capital mineira. Outro pesquisa mostra que entre 1997 e 2001, o número de turistas que visitaram a cidade aumentou de 2,6 milhões para 3,8 milhões e em 2002 chegou a quase 4 milhões. São dados otimistas, mas não refletem o atual cenário do mercado de eventos da cidade. "Temos um enorme potencial de crescimento. Para tanto, a cidade necessita da construção de um grande espaço para eventos que seja compatível com o tamanho da economia do Estado", enfatiza Nelson de Souza Cunha, presidente da Abeoc-/MG. Obras de ampliação em vista - A carência de uma área para realização de eventos de grande porte na cidade é evidente. Mesmo com a inauguração de novos espaços e perspectivas de construção de outros, Belo Horizonte aguardava uma boa notícia para aquecer o setor. Quando o governador Aécio Neves autorizou a conclusão das obras do Expominas, o trade local teve o que comemorar. Afinal, o espaço ganhará dois novos pavilhões que, interligados ao já existente, ampliarão sua capacidade para até 45 mil pessoas, com uma área total de 27 mil m². Junto aos três pavilhões, também será implantada a infra-estrutura complementar para expositores e visitantes, seguindo as normas internacionais para a realização de grandes eventos. Ao término das obras, a área construída terá 59 mil m², mais de quatro vezes a atual. O novo espaço também contará com estrutura de apoio logístico, incluindo anfiteatro e praça de alimentação, e deverá ser entregue ao final de 2004. Posse conjunta para unir o trade - Dentro do mais moderno estilo de união e espírito de coletividade, três importantes entidades ligadas ao turismo de eventos de Belo Horizonte, realizaram em julho a tríplice posse de suas novas diretorias estaduais. A Abeoc (Associação Brasileira de Organizadores de Eventos), Sindiprom (Sindicato de Empresas de Promoção, Organização, Montagem de Feiras, Congressos e Eventos) e Abih (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) promoveram o evento conjunto no Minascentro. Nelson de Souza Cunha da Abeoc/MG, Sarah Vaintraub do Sindiprom/MG e José Aparecido Ribeiro da Abih/MG, assumiram as presidências das entidades com um discurso de posse que teve uma única temática: a união para o crescimento do mercado de eventos na cidade. "Precisamos agir coletivamente para mudar atual cenário da hotelaria em Belo Horizonte. No dia em que todas as entidades conseguirem se reunir e sentar para conversar, o turismo da cidade já começará a se beneficiar como um todo. Precisamos, juntos, traçar um projeto para atrair mais eventos e turistas para a cidade", destaca José Aparecido Ribeiro, presidente da Abih/MG. "Só os eventos podem ajudar a incrementar o fluxo de turistas em Belo Horizonte num curto espaço de tempo", complementa. Por sua vez, a nova presidente do Sindiprom/MG, Sarah Vaintraub, enfatiza que a entidade vai procurar atuar mais próxima das outras entidades e órgãos governamentais. "Queremos promover Minas Gerais como um destino forte e competitivo para realização de eventos. Também queremos debater a questão tributária para o desenvolvimento do segmento de eventos no Estado", conclui. Abeoc/MG, a segunda maior do país - Principal entidade que representa os organizadores de eventos no Estado, a Abeoc/MG, foi oficialmente criada em maio deste ano, e nasceu como a segunda maior em número de associados do país. Contando com mais de 60 associadas, que incluem empresas organizadoras, promotoras e montadoras de eventos, centros de convenções, espaços para eventos, hotéis, restaurantes e empresas de segurança e limpeza, a entidade tem planos para crescer ainda mais nos próximos anos. "Estabelecemos uma diretriz de trabalho para o segundo semestre e vamos desenvolver um planejamento estratégico para a Abeoc/MG, até 2005. É um projeto ambicioso que será realizado por todos os diretores. Queremos fortalecer a idéia de que sócio deve trabalhar, contratar, indicar, privilegiar e prestigiar a entidade. Essa é uma das questões que não vamos abrir mão", enfatiza Nelson de Souza Cunha, presidente da Abeoc/MG. Ele ressalta que a entidade também vai trabalhar bastante no treinamento, capacitação e desenvolvimento dos profissionais ligados ao turismo de eventos, em sintonia com o Senac-MG. Outra ação será o levantamento de números confiáveis do segmento de eventos na cidade, para confirmar sua representatividade na economia local. Com seu know-how e experiência, Sebastião Antônio dos Reis e Silva, diretor regional do Senac/MG, e diretor empresarial e institucional da Abeoc/MG, diz que é necessário desenvolver e trabalhar as competências dos empresários associados em seus ramos de atuação, para que o trabalho esteja focado na cadeia produtiva. "Na área de eventos, o organizador é o ponto de convergência de todas os outros setores dessa cadeia", ressalta. "Hoje o Senac/MG tem cursos de capacitação para o turismo, também voltados especificamente para a área de eventos. Recentemente formamos a primeira turma de organizadores de eventos", finaliza. Hotelaria pronta para receber - Mais de nove mil unidades habitacionais e 17 mil leitos. São hotéis novos, tradicionais, ainda em construção e alguns com toda infra-estrutura para realização de eventos. A hotelaria de Belo Horizonte é grande, moderna e dotada de um enorme potencial para ser usufruído mas, como em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, a demanda de hóspedes não acompanhou o seu ritmo de modernização e oferta crescente de leitos. Nos últimos anos, seguindo a tendência de equipar hotéis com toda infra-estrutura para realização de eventos, a capital mineira ganhou novos espaços dentro da hotelaria, que também reformou e modernizou os espaços existentes. Em busca de mais hóspedes e, principalmente, de turistas de eventos e negócios, num curto espaço de tempo, o novo presidente e a diretoria da Abih/MG, estão desenvolvendo novos planos de ação. Tendo por base exemplos de sucesso, como o da Bahia, a entidade vai seguir princípios básicos de administração que incluem pesquisa, planejamento, investimento e marketing, para um crescimento forte e organizado do setor. "Não foi o que assistimos por aqui nos últimos anos. Para seguir o exemplo baiano, devemos encarar o ofício com profissionalismo, ou contratar gente que entenda do assunto para nos mostrar os caminhos", ressalta José Aparecido Ribeiro, novo presidente da Abih/MG. Convicto de seu potencial, infra-estrutura e qualidade de serviços para receber ainda mais turistas de eventos, negócios e lazer, o trade de Belo Horizonte vive um momento especial e de transição no que se refere a ações estratégicas para evoluir com o turismo nos próximos anos. História, charme e eventos em Ouro Preto* - Encravada entre as montanhas de Minas Gerais, e distante 90 km de Belo Horizonte, a cidade histórica de Ouro Preto possui o maior conjunto homogêneo de arquitetura barroca do Brasil. No auge do ciclo do ouro, foi construída por artistas e escravos, que dos modelos europeus criaram um estilo nacional. Em 1933, foi considerada "Monumento Nacional" e, em 1980, foi declarada, pela Unesco, Patrimônio Cultural da Humanidade. Famosa pela riqueza de suas construções, verdadeiras obras de arte em dezenas de igrejas, praças, museus e ruas, que formam o cenário de importantes passagens da história do Brasil, Ouro Preto está se firmando, também, como uma das cidades mineiras mais atraentes para turismo de eventos. Por já receber turistas interessados em arte, cultura, história e patrimônio, a cidade é um destino consolidado por toda sua infra-estrutura de hotéis, pousadas, bares e restaurantes. 305 anos de história e pronta para os eventos - O Festival de Inverno de Ouro Preto, o Festival de Jazz, e o Projeto Cinema BR, já são bem conhecidos no calendário fixo da cidade. Com a implementação de dois grandes centros para realização de eventos e reuniões, o Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e a Estalagem das Minas Gerais. A cidade hoje tem seu foco todo dirigido na captação de eventos culturais, empresariais, técnico-científicos e universitários. "O turismo é a resposta econômica da cultura", destaca Fátima Tropia, diretora do Parque Metalúgico. A criação de uma comissão de turismo da cidade, a realização de Fóruns de Turismo e Desenvolvimento, e a participação da comunidade local para o incremento da infra-estrutura de serviços são alguns dos pontos que estão ajudando Ouro Preto a concorrer com outros importantes destinos. Aliar eventos e negócios, cultura e história é um dos pontos fortes da cidade. A infra-estrutura da cidade, que permite a realização de diversos tipos de eventos unida ao seu patrimônio transformam Ouro Preto no mais novo e atraente destino para o turismo de eventos no país. Estrada Real de Minas Gerais - O caminho que ligava o circuito do ouro aos portos do litoral brasileiro, faz parte de um dos mais importantes projetos turísticos do Estado. A Estrada Real de Minas, aberta no final do século XVII, pelo sertanista Rodrigues, filho de Fernão Dias, impulsionou o surgimento de pequenos povoados que cresceram às margens da estrada. Todos eles cresceram ao lado de uma igreja, com uma venda, o rancho e algumas casas. Com a descoberta do diamante, a estrada foi estendida até o Arraial do Tejuco, atual Diamantina. Hoje, o grande potencial turístico propiciado por sua beleza natural, em mais de 400 km da Estrada Real, faz com que o ecoturismo seja uma vocação natural. Atualmente, um projeto educativo do Senac Minas, leva capacitação técnica para as comunidades ao longo da Estrada Real, oferecendo cursos e programas direcionadas para a atuação com qualidade na prestação de serviços turísticos.