Estâncias turísticas calculam perdas e fazem planos pós Covid-19

Campos do Jordão e Olímpia (São Paulo), Caldas Novas e Alto Paraíso (Goiás), Gramado e Canela (Rio Grande do Sul): destinos turísticos do interior do país mostram impactos da crise.

Em reportagem veiculada pela CNN Brasil no último dia 10 de abril, empresários e lideranças políticas de cidades turísticas do interior do Brasil mostram como a crise da pandemia do Covid-19 esta impactando a economia local.

Olímpia: mais da metade da renda da Orlando Brasileira vem do turismo
Com piscinas vazias, a cidade de Olímpia tem 2 parques temáticos fechados e 80 hotéis sem hóspedes. Localizada no interior de São Paulo, mais da metade da renda da Orlando Brasileira vem do turismo, especialmente por conta das águas termais. A cidade vive a quarentena e encara as incertezas sobre o futuro. "Foi fácil fechar, mas vai ser difícil reabrir", disse o prefeito Fernando Augusto à CNN.


Em Caldas Novas, Goiás, que tem a mesma atividade, esta sexta-feira (10) marca os 25 dias de portas fechadas, com 80% na queda da arrecadação. Entidades de classe têm se reunido com a prefeitura, para que o comércio possa voltar a abrir, mas ainda não há prazo. "Estamos seguindo recomendações de saúde, buscando o controle do vírus e retomada do comércio em geral. Acreditamos que quando formos liberados para trabalhar, em poucos meses retornaremos nosso movimento regular", disse o secretário municipal de turismo, Ivan Garcia Pires.

Em Canela, no Rio Grande do Sul, todos os eventos foram adiados e a cidade decidiu trocar o inverno pela primavera no calendário cultural. Junto com Gramado, o sindicato dos hotéis calcula perdas de R$ 180 milhões por mês.

A cidade fez um plano de recuperação pós-coronavírus que inclui a venda de vouchers de produtos e serviços com prazo de resgate de 6 meses a um ano para injetar dinheiro imediato nas empresas que estão sofrendo com a crise.

Campos do Jordão: Com 70 dias de quarentena eu consigo respirar, com 90 a gente quebra. Tem empresas que com 30, 40 dias já quebra", disse o prefeito
Com o mesmo perfil, de turismo no inverno, Campos do Jordão, no interior de São Paulo, teve que suspender o Festival Internacional de Música Clássica e prevê queda pela metade na arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS). "Com 70 dias de quarentena eu consigo respirar, com 90 a gente quebra. Tem empresas que com 30, 40 dias já quebra", disse o prefeito Frederico Guidoni.



Alto Paraíso: perdas na ordem de R$ 1 milhão
Na mística Alto Paraíso, em Goiás, os três próximos feriados vão ser de muita dificuldade para o comércio na avaliação da prefeitura, com perdas na ordem de R$ 1 milhão. “É preocupante ver a dificuldade que os empresários estão passando por estarem com seus empreendimentos fechados desde os decretos", disse Moisés Neto, secretário de Turismo da cidade.



Belém: balsas paradas e ilhas isoladas.
No Pará, por conta do fechamento do serviço de balsas e lanchas que fazia a travessia de Belém, capital do estado, a Ilha do Marajó ficou isolada. O comércio da cidade de Salvaterra, a maior da ilha, está com horários limitados e as praias estão vazias. O prefeito Valentim Lucas de Oliveira projeta perdas na ordem de R$ 30 milhões e tenta apertar a fiscalização do isolamento "Agora houve um relaxamento, mas a gente trabalhando com as equipes de saúde diuturnamente tem tido sucesso", diz ele.

Grandes eventos sofrem impacto

Festa de São João: Campina Grande, na Paraíba, decidiu transferir a festa para outubro
A Festa de São João, evento praticamente sagrado no calendário do Nordeste brasileiro, neste ano já será diferente. A prefeitura de Campina Grande, na Paraíba, decidiu transferir a festa para outubro. Já Caruaru, em Pernambuco, por enquanto não tem uma solução para o problema. A festa movimenta R$ 200 milhões ao longo do mês e é replicada em várias cidades pelo nordeste. Mas as decisões sobre ela não têm sido coordenadas: "Eu tenho conversado com um ou com outro e essa decisão não está sendo uniforme. Eu tenho conversado com prefeitos aqui de Pernambuco, [como o da cidade de] Araripina, que tem festejos juninos menores, mas que querem compactuar com a gente da decisão sobre esse calendário. Mas essa decisão no Nordeste não está sendo tomada de maneira coordenada, cada um tá tomando a sua decisão", diz a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra.


Festival de Parintins já foi transferido, mas ainda corre o risco de não acontecer
Também previsto para junho, o grande Festival de Parintins já foi transferido, mas ainda corre o risco de não acontecer. A festa foi adiada inicialmente, mas pode ser cancelada. "Diria que economicamente, se a gente cancelar o festival, nós vamos ter um rombo de R$ 120 milhões, porque só o festival coloca na nossa economia no período, nos três dias, R$ 80 milhões", diz o prefeito Frank Bi Garcia. Os seis cruzeiros com turistas que fechariam a temporada de março neste ano também foram suspensos.

Muito embora o Ministério do Turismo tenha lançado campanhas com os slogans 'se aperreio para viajar agora, deixe para depois', 'não cancele sua viagem, remarque' e 'turista: guarde essa ideia, o Brasil te espera', isso não tem impedido a drástica situação nas contas públicas de municípios que dependem disso pelo país.

Governo federal tenta liberar crédito

O Ministério da Economia disse à CNN que a flexibilização trabalhista (MP 936) é 'uma das vertentes que veio para também assistir esse setor'. Sobre as remarcações e cancelamentos de passagens e diárias de hospedagem, eles dizem que as empresas do turismo podem se cadastrar na plataforma oficial do governo federal consumidor.gov.br, que permite a interlocução gratuita entre empresas e o consumidor em relação aos cancelamentos e remarcações de viagens. A Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia (Sepec/ME), está tentando conseguir com bancos uma linha de crédito ao setor de turismo pra tentar impedir o fechamentos de empresas 'e consequentemente o aumento desenfreado do desemprego'. Na próxima semana, funcionários do ministro Paulo Guedes se encontrarão com representantes do setor de turismo.

Veja abaixo a situação de cada uma das cidades citadas na reportagem:

Caldas Novas (GO): comércio já estuda reabertura

Entidades de classe da cidade tem se reunido com a prefeitura para montar estratégias de retomada do comércio gradualmente, mas por enquanto a cidade está parada. Boa parte das reservas de grupos tem sido adiada e não cancelada, o que dá fôlego para a prefeitura e para a rede hoteleira da cidade. "Estamos seguindo recomendações de saúde, buscando o controle do vírus e retomada do comércio em geral. Acreditamos que quando formos liberados para trabalhar, em poucos meses retornaremos nosso movimento regular", disse o secretário municipal de turismo, Ivan Garcia Pires. Nesta sexta, a cidade completa 25 dias fechada, com 80% de queda na arrecadação. Eles estimam que as atividades voltem em 45 dias e alcance a capacidade total de 3 a 6 meses.

Canela (RS): aposta na primavera

O índice de visitação da cidade caiu a zero, frustrando as expectativas de receber um milhão de visitantes no feriado da Páscoa. Mesmo assim a decoração nas ruas foi mantida. O Sindicato dos Hotéis da Serra Gaúcha (SindTur) estima que o prejuízo alcance R$ 180 milhões mensais em Canela e Gramado. A cidade foi uma das primeiras a criar um plano estratégico pra retomar a economia pós coronavírus. Eles estão prevendo ações de capacitação e relacionamento para o curto prazo, ativações de mercado e promoção em médio prazo e expansão e aprimoramento para o longo prazo. A cidade quer retomar os eventos suspensos a partir do segundo semestre. A cidade que até então apostava no inverno, vai concentrar os esforços na primavera, entre setembro e dezembro e também no Natal. A CNN teve acesso ao plano, que aponta inclusive fraquezas da cidade, como preços altos e sinalização turística precária. O plano inclui ainda a venda de vouchers de produtos e serviços com prazo de resgate de 6 meses a um ano para injetar dinheiro imediato nas empresas que estão sofrendo com a crise.

Olímpia (SP): 5 mil desempregados à vista

Atrás de Aparecida, onde a basílica de Nossa Senhora está localizada, a cidade de Olímpia, no interior de São Paulo se apresenta como o segundo maior destino turístico do estado. Apelidada de 'a Orlando brasileira', a cidade vive do que recebe dos visitantes dos parques com águas termais, mas há incertezas até sobre como deve ser mantida a temperatura da água. Mais da metade da renda do município vem do turismo, que tem 80 hotéis e pousadas e 2 grandes parques. A expectativa era ter 2,7 milhões de visitantes nesses parques. A realidade, 5 mil desempregados à vista pela paralisia do setor. "Foi fácil fechar mas vai ser difícil reabrir", disse o prefeito Fernando Augusto à CNN.

Campos do Jordão (SP): cidade pode quebrar

A cidade começou a quarentena por decreto no dia 19 de março, quase uma semana antes do governo estadual, que iniciou o isolamento no dia 24 de março. A cidade tem apenas 50 mil habitantes mas recebe 4 milhões de turistas por ano. Havia o receio, por parte da prefeitura, de que moradores da capital paulista escolhessem a cidade para se isolar, já que a distância é apenas de 186km. Agora no feriado da Páscoa, a prefeitura foi além e instalou a barreira sanitária, pra vetar turistas. A arrecadação de Imposto Sobre Serviços da cidade é de R$ 17 milhões por ano. Com a pandemia, isso pode cair até pela metade. O Festival Internacional de Música Clássica já sofreu dois meses de alteração: o início por enquanto mudou de 1º de junho para 1º de agosto. "Qualquer cidade com a mesma característica da nossa com mais de 90 dias está quebrada. Eu tenho caixa na cidade pra aguentar no máximo isso. Com 70 dias de quarentena eu consigo respirar, com 90 a gente quebra. Tem empresas que com 30, 40 dias já quebra", disse o prefeito Frederico Guidoni.

Alto Paraíso (GO): feriados perdidos

A pequena e mística cidade no interior de Goiás tem apenas 7500 habitantes, mas recebe até 15 mil turistas em feriados prolongados. Nos dois feriados de abril e no 1º de maio, esses números irão a zero. Com cachoeiras, cânions, trilhas e águas termais, a cidade está a 230km de Brasília e detém a Chapada dos Veadeiros. "É preocupante ver a dificuldade que os empresários estão passando por estarem com seus empreendimentos fechados desde os decreto do estado e do município mas estamos fechados agora para receber todos em breve", disse Moisés Neto, secretário de Turismo da cidade. A cidade calcula perdas na ordem de R$ 1 milhão e conta com a ajuda da agência de promoção ao turismo do governo estadual para reaquecer a economia e compensar o prejuízo.

Salvaterra (PA): ilha isolada

Com a pousada dos Guarás, uma das mais importantes da Ilha do Marajó, fechada até 30 de abril, a prefeitura já sente o impacto da baixa arrecadação nos cofres públicos. O prefeito Valentim Lucas de Oliveira projeta perdas na ordem de R$ 30 milhões. O dobro desse valor foi transferido para a cidade vindo do governo federal, como verbas para ações de combate ao coronavírus. A cidade tem de 250 a 300 pessoas viajando por dia entre ela e Belém. O comércio está funcionando, mas com horários mais limitados. A prefeitura parou de funcionar e todos os eventos foi cancelado. Aos domingos, a visitação aos dez igarapés está sendo impedida com ajuda da Polícia Militar. "Agora houve um relaxamento, mas a gente trabalhando com as equipes de saúde diuturnamente tem tido sucesso", diz Oliveira. Um decreto estadual vetou o funcionamento de balsas e lanchas, deixando a Ilha do Marajó isolada. "O nosso povo do Marajó gosta de ficar na rua mas teve que mudar essa rotina", completa.

Caruaru (PE): São João sub júdice

No agreste de Pernambuco, a cidade de Caruaru é conhecida como a 'capital brasileira do forró', mas tem vivido uma rotina de silêncio. O festival de São João, realizado em junho, época das festas juninas, costuma reunir 2 milhões de pessoas, movimentando R$ 200 milhões. A incerteza sobre o ápice da epidemia dificulta o cálculo das perdas. Diferentemente de Campina Grande, na Paraíba, a prefeitura ainda não bateu o martelo sobre a prorrogação do evento. "Eu tenho conversado com um ou com outro e essa decisão não está sendo uniforme. Eu tenho conversado com prefeitos aqui de Pernambuco, [como o da cidade de] Araripina, que tem festejos juninos menores, mas que querem compactuar com a gente da decisão sobre esse calendário. Mas essa decisão no Nordeste não está sendo tomada de maneira coordenada, cada um tá tomando a sua decisão", diz a prefeita Raquel Lyra. A prefeita tem receio de mover o festejo para outubro, como fez a cidade paraibana, pela coincidência com o calendário eleitoral. A cidade ainda está sem receber as 25 a 60 mil pessoas por dia que visitam feiras como a 'Sulanca'.

Parintins (AM): festival na berlinda

Seis cruzeiros com turistas que fechariam a temporada de março neste ano foram suspensos. Previsto para junho, o grande "Festival de Parintins" já foi transferido, mas ainda corre o risco de não acontecer. A festa foi adiada inicialmente, mas pode ser cancelada. "Diria que economicamente, se a gente cancelar o festival, nós vamos ter um rombo de R$ 120 milhões, porque só o festival coloca na nossa economia no período, nos três dias, R$ 80 milhões", diz o prefeito Frank Bi Garcia. Ao todo, a cidade recebe uma média de 120 mil turistas por ano, incluindo o festival folclórico, o carnaval e a temporada de cruzeiros. A bancada federal de senadores e deputados está direcionando recursos para a cidade, o que pode dar um alívio economicamente. Uma UTI aérea do governo estadual já levou para a capital três pacientes com coronavírus, mas dois não resistiram. 350 novos profissionais da saúde foram contratados por três meses para enfrentar o coronavírus.

Fonte: CNN Brasil