No mercado de feiras brasileiro, tudo não passou de simples marola

Editorial publicado na newsletter EVENTOS News 129

Apesar da desgraça alheia não nos servir de consolo, olhar para o que está acontecendo no resto do mundo e, muito especialmente, para a nossa vizinha e principal parceira comercial a Argentina, deveria servir de consolo e alerta para os empresários brasileiros.

A revista Isto É Dinheiro desta semana estampa em sua capa: “2010 - O ano que já começou”, reportando que “projetos privados que somam R$ 160 bilhões e milhares de contratações a cada dia já antecipam um ritmo de crescimento que só estava previsto para acontecer no início do próximo ano”.

Na mesma reportagem, José Carlos Grubisich, presidente da ETH, empresa do Grupo Odebrecht, afirma que “não cortamos um centavo de nosso plano de investimento e, agora que a crise chegou ao fim, estamos mais fortes em relação aos nossos concorrentes”.

Esta tem sido a perspectiva dos editoriais do Portal Eventos e da Revista Eventos desde que a crise se instalou nos Estados Unidos: “quem mantivesse ou aumentasse seus investimentos em marketing durante a crise estaria mais forte quando a mesma terminasse”.

Mas, voltando à Argentina é lamentável que o país vizinho, que assistia ao crescimento de seu mercado de feiras desde 2002, esteja vivendo momentos muito difíceis desde o final do ano passado, situação que piorou consideravelmente nas últimas semanas.

A simples verificação da quantidade de expositores neste período o demonstra: 17.845 (2002), 27.755 (2003), 36.576 (2004), 44.688 (2005), 48.380 (2006), 56.170 (2007) e 56.912 (2008). Em visitantes, a situação é ainda um pouco pior: 4.079.000 (2002), 6.000.000 (2003), 9.699.000 (2004), 10.789.931 (2005), 13.036.928 (2006), 13.913.210 (2007) e 13.676.573 (2008). Mais significativo ainda são os dados referentes à quantidade de feiras: 147 (2002), 238 (2003), 275 (2004), 324 (2205), 325 (2006), 326 (2007) e caindo para 316 no ano passado.

Se a situação no ano passado é representativa do prejuízo que o mercado de feiras argentino sofreu com a crise econômica mundial, recentes anúncios de cancelamento ou adiamento de mais de 20 feiras¹ indica que, desde o surto da gripe naquele país, a situação é muito séria e preocupante.

O panorama no Brasil, no entanto, é bastante diferente. Até a presente data, não se tem conhecimento do cancelamento ou adiamento de nenhuma feira². No entanto, da mesma forma que nos eventos em geral, aconteceram significativas mudanças do perfil de participação nas feiras, em que os expositores cientes da importância de participar das feiras, diminuíram o espaço ocupado, diminuíram o requinte e o luxo de seus estandes, diminuíram a busca de soluções que se bem o fizessem sobressair, resultariam em gastos excessivos e aumentariam sua preocupação com o ROI Return Of Investments.

Certamente, tudo isso diminuiu a rentabilidade das empresas que atuam no setor causando grandes dificuldades. No entanto, se compararmos com o que aconteceu e está acontecendo em outros países, somos obrigados a reconhecer que o Lula estava certo: no Brasil, “tudo não passou de uma simples marolinha”.

Sergio Junqueira Arantes

Sergio@ExpoEditora.com.br

Diretor da Eventos News, do Portal Eventos, da Revista Eventos e da Making Of

Titular da Cadeira 1, da Academia Brasileira de Eventos

Vice-presidente da ANETUR - Associação Nacional dos Editores de Turismo

Member MPI Brazil Chapter - Meetings Professionals International

Membro do IBEV Instituto Brasileiro de Eventos

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¹ Pesquisando o site argentino especializado Perspectiva pode-se verificar o adiamento ou cancelamento das seguintes feiras:
  • 20ª Feria del Libro Infantil y Juvenil 2009
  • Congreso Girasol NEA 2009
  • Congreso Patagónico Internacional de Medicina
  • Expo Agronea
  • Expo Campo
  • Expo Educativa
  • Expo Futura Mamá & Bebé y Expo Kids
  • Expo Sign & Serigrafía 2009
  • ExpoGrafika
  • Expomueble 2009
  • Fericerdo 2009
  • FITECMA 2009
  • INSTALANDO 09
  • Kontrastconcept
  • Latin American Golf Exhibition
  • MABYN 44
  • Salon del Automovil
  • SIRAA 2009
  • Zona Industrial 2009
² As exceções que confirmam a regra são: 1. O cancelamento da mais tradicional feira brasileira, a FENIT que no ano passado completou 50 anos. Porém o encerramento de suas atividades não foi decorrente da problemática mundial atual e sim ao esgotamento de um modelo, que anteriormente já havia vitimado outras feiras tradicionais como o Salão da Criança e a UD. 2. O cancelamento da Conexsa - Congresso e Exposição Sul-Americanos de Turismo, Hotelaria e Cultura cancelada, segundo seus organizadores, em decorrência da crise econômica que afetou a captação de patrocínios e, principalmente devido aos cortes e redirecionamentos de verbas federais voltadas ao setor de turismo.