O Baixinho é fera

Durante três dias Manoel Linhares nos internou num Fake World.
Abetura Conotel 2018

Recém-eleito presidente da ABIH Nacional, Manoel Linhares, também conhecido por "Baixinho" e que também a todos chama de baixinho, teve menos de cinco meses para produzir a maior Conotel já realizada.

Em concurso com uma edição Regional da Equipotel, a participação no evento passou das 4.000 pessoas, entre hoteleiros, fornecedores para hotelaria, políticos, dirigentes de entidades, professores e muitos estudantes. 

Passar três dias em Fortaleza é sempre um sonho, mas, desta vez, o Baixinho nos pegou pela mão e conduziu com muita alegria pelo mundo da fantasia. Acreditem, neste mundo a Embratur faz um excepcional trabalho aplicando exemplarmente os ditames da Inteligência Competitiva. Só não explicou por que há décadas estamos estacionados na casa dos seis milhões de turistas internacionais (palestra da Ângela Baltazar, chefe de Inteligência Competitiva da Embratur).

Herculano Passos

O deputado Herculano Passos, presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Turismo, salientou a excelência dos programas de Turismo de São Paulo e sua mais de uma centena de cidades turísticas. Mas isso é Fake News. São Paulo não tem toda essa plêiade de destinos turísticos, o que tem é cidades que se dizem turísticas para receberem uma verba do Governo do Estado, para aplicar sei lá aonde, muito menos, como. Faltou explicar por que nesse mar de rosas, mais de 10 secretários de Turismo passaram pelo cargo, sequer dando tempo para aprendermos seus nomes. Aliás, alguém é capaz de recitar o nome dos últimos 10 secretários de Turismo de São Paulo? Acho que nem o Google.

O deputado Herculano discorreu também sobre o impacto econômico positivo advindo da abertura nos cassinos, chamando atenção para o ocorrido em Singapura: “não devemos ter medo das grandes cadeias internacionais, pois a implantação de megaempreendimentos, como o Sands de Singapura, multiplica a ocupação de toda hotelaria local”, e também defendeu a política de céus abertos e abertura para que as companhias aéreas tenham 100% de capital externo. Soluções que podem virar pesadelo.

Seriam 19 painéis e palestras, mas o Gil Giardelli, mais uma vez, cancelou sua participação na ultima hora. Mas não fez falta, pois para alegrar a plateia e encerrar o primeiro dia, o mágico Eduardo Peres tirou coelhos da cartola para falar de Motivação para Excelência e Resultados.

Marcelo Neri

Na palestra magna, logo após a cerimônia de abertura do Conotel, Marcelo Cortês Neri, ex-ministro chefe da Secretária de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, na gestão Dilma Roussef (suas principais áreas de pesquisa são políticas sociais, educação e microeconometria), mostrou-se confiante no futuro do país e demonstrou que, historicamente, os anos de eleição presidencial (que coincidem com as Copas do Mundo) são excelentes para a economia e, mais ainda para o Turismo. A conferir.

Apesar da crescente importância do corporativo e dos eventos, segundo Neri “o lazer ainda impacta mais o turismo no país, apesar da “ameaça” do Airbnb, que se constitue numa concorrência predatória”. E, continuando, Marcelo Neri lembra que o Brasil precisa enfrentar seus desafios: na economia, é necessário evoluir em produtividade, abertura, ajuste fiscal, ambiente de negócios e educação, e no “turismo que trafega sobre sonhos, é preciso resolver a infraestrutura, internet, impostos, inclusão social e isonomia com Airbnb”.

Mas o sucesso também acarreta problemas. Acomodar egos e agendas de ministros, senadores e outros que também se julgam autoridades não é tarefa simples. Causa atrasos na programação, alterações de horário e interferência no conteúdo de outros palestrantes que tem seu tempo diminuído. O Toni Sando, por exemplo, bateu um recorde: para sua palestra sobrou apenas 1 minuto. Haja savoir faire.

Vinícius Lummertz
Eunício de Oliveira

O novo ministro do Turismo, Vinícius Lummertz, que era esperado na abertura, foi chamado na presidência da República e só pôde comparecer no segundo dia do evento. Atrasou mais de uma hora e chegou acompanhado pelo presidente do Congresso, Eunício de Oliveira e outros deputados. Todos falaram. Lummertz, como sói acontecer, deu uma aula de Brasil em 30 minutos e nos trouxe de volta ao chão. Mas, em seguida, voltamos para o mundo das fantasias pelas mãos do Eunício. E o Baixinho sempre animado. E animando a todos.

Helton Yomura

Com duas horas de atraso, teve inicio a programação do segundo dia, que ainda teve a presença do ministro do Trabalho, o jovem Helton Yomura, muito à vontade no cargo (apesar de recém promovido), estabeleceu um diálogo com a diretora jurídica da CNC, Dra. Lirian Cavallero. O panorama é alvissareiro. A Reforma Trabalhista pegou (o que é surpreendente num país que tem leis que pegam e leis jogadas para as calendas). Tão criticada nos palanques, teve somente 27 ações de inconstitucionalidade impetradas. Apenas duas discutindo eventual prejuízo aos trabalhadores, as demais demandando contra o fim do Imposto Sindical. Seus resultados para a economia em geral já se mostram positivos, muito especialmente para os setores de turismo e eventos, para os quais o trabalho intermitente, o intervalo entre jornadas e, principalmente, o primado do negociado sobre o legislado e outras conquistas da Reforma diminuíram a informalidade e trouxeram maior segurança jurídica para empresários e trabalhadores. Apenas a questão da gorjeta, embutida numa Medida Provisória não votada, ainda aperta os calos do setor. Mas o ministro prometeu resolver rapidamente. Muitos sorrisos, muita alegria. Parece que estamos no céu. Assim espero.

Manoel Linhares

Manoel Linhares se mostrou homem desbravador, “não é hora de retrair. A vida me ensinou que é na crise que as grandes oportunidades surgem. Nessa quadra delicada do país, onde os escândalos e desmandos tomam conta dos noticiários, resistir é preciso, pois as dificuldades promovem as melhores lutas e nelas conquistamos grandes vitórias”, salientando que “a cadeia de Turismo tem plena consciência de sua responsabilidade. Longe de nós o pessimismo, apostamos no país com fé e garra, investindo, pagando pesada carga tributária, gerando maior volume de empregos”.


Alexandre Gheller, Alexandre Sampaio e Alberto Cestrone

O primeiro painel do Conotel, que reuniu o presidente da Resorts Brasil, Alberto Cestrone, e o presidente do FOHB, Alexandre Gheller, sob mediação do presidente da FBHA e presidente da Câmara Setorial de Turismo da CNC, Alexandre Sampaio, chamou atenção para o bom momento vivido pela hotelaria neste quadrimestre, com crescimentos de REVPAR de mais de dois dígitos na maioria dos destinos nacionais, mas reclamou dos gargalos do setor: ausência de ressonância junto aos poderes públicos federal, estaduais e municipais, apesar do setor representar 10% da força de trabalho do país; considerando a impossibilidade da continuidade dos financiamento da construção de hotéis com funding constituído por pequenos e médios investidores (modelo condotel), a única saída parece serem os fundos de investimentos (pouco viáveis perante os juros altos praticados pelo mercado). “Precisamos de segurança jurídica para esses investimentos. Só assim voltaremos a pensar em novos empreendimentos”, afirmou o presidente do FOHB.

Preocupação mencionada por Alberto Cestrone neste primeiro painel, a questão da obrigatoriedade de os hotéis terem 10% dos quartos adaptados a pessoas com necessidades especiais, acreditam os painelistas estar sendo conduzida a bom termo “graças à união das entidades e muito trabalho, que permitiram que 5% sejam preparados para atender portadores de necessidade especiais, nos termos das Normas da ABNT, e os 5% restantes para outras adaptações também necessárias: cegos, obesos, terceira idade etc.”, na lembrança de Alexandre Gheller.

Lirian Cavalhero
A acessibilidade foi também o tema da Dra. Lirian Cavalhero, consultora jurídica da FBHA, que salientou que a “inclusão é uma demanda social, regida por lei, e que a hotelaria precisa ser referência positiva nesta questão”.

Fruto do desconhecimento das reais necessidades do mercado e de muita demagogia, a nova Lei pautava o absurdo ao exigir que todos os hotéis, novos e antigos, tivessem 10% de seus apartamentos adaptados para uso de portadores de necessidades especiais. Levada a ferro e fogo, hotéis que se constituem em patrimônio nacional seriam inviabilizados, milhares de pequenos e médios hotéis e pousadas espalhados pelo país teriam suas portas fechadas, impossibilitados de atender ou se adaptarem ao preceituado na Lei.

Mas, como explicou a Dra. Lirian, o esforço das entidades e a compreensão do Legislativo e do Executivo permitiram a promulgação de um Decreto que pacifica a questão e permite que os reais interesses dos portadores de necessidade especiais, não só cadeirantes, mas também cegos, obesos, terceira idade etc., sejam atendidos.

Também Clailton Armelin, diretor da CVC, tratou do assunto e destacou a ênfase que a CVC vem dando para que os receptivos locais estejam preparados para atendimento de pessoas com mobilidade reduzida. “Essa clientela é significativa no país e muitas agências não atendem esse público. Nossas agências procuram oferecer cada vez mais opções para o turismo acessível. São pessoas com grande poder de compra, que ainda encontram no Brasil muitos problemas”.

A palestra que encerrou o Conotel 2018, às 20h30, do dia 18 de maio de 2018, foi de Otávio Novo, diretor da Novo8, que trouxe sua experiência de mais de uma década como responsável pela segurança em centenas de hotéis da rede Accor. Participante de um painel sobre o tema na primeira edição do Fórum Eventos, em 2013, Otávio Novo salientou que, nestes cinco anos, a indústria cresceu em sua preocupação com a segurança de seus hóspedes, em seus vários vetores. Mas não o suficiente.

Hoje, existem dezenas de tipos de riscos mapeados para o setor de hospitalidade. Questões operacionais, como as de segurança patrimonial, segurança alimentar e manutenção, são campos para potenciais crises, assim como temas de gestão corporativa, de economia e de políticas públicas, de concorrência, de mudanças climáticas, de segurança de informação etc. Muitos desses riscos são conhecidos e, portanto, passíveis de prevenção, mas, obviamente, ameaças desconhecidas, de variadas origens e causas, também poderão se tornar crises.

Otávio Novo salientou que “nem sempre é preciso vivenciar uma perda concreta para sentir seus efeitos. A simples sensação de insegurança, de incapacidade de evitar e reagir diante de algo complexo, já trará impactos relevantes nas concorrências e na escolha por parte dos clientes”. E isso ocorre por, principalmente, dois fatores: a evolução de tipos de riscos globais de grande impacto e o aumento das exigências de clientes e de autoridades públicas quanto aos níveis de proteção às pessoas, negócios e imagem.

Instabilidades sociais, econômicas e políticas, falta de água, terrorismo global, ataques cibernéticos e outros, são exemplos de cenários que nos mostram que vivemos num novo período, onde a possibilidade de passarmos por ambientes hostis e desafiadores rompe o nível do provável e atinge o caráter da inevitabilidade. E, apesar de soar como alarmante, essa observação traz em si uma conclusão positiva, pois, havendo a consciência da alta probabilidade de crises, se torna cada vez mais possível se preparar para as transpor e, num segundo momento, se fortalecer com o aprendizado e novo olhar proporcionado pela experiência.

Otávio Novo terminou sua palestra chamando a atenção para um novo desafio para os hotéis, o Estatuto de Conformidade GDPR, que entra em vigor nesta semana (dia 25), que exigirá de hotéis que mantem negócios e clientes europeus que se adequem à nova norma de proteção de dados europeia.

Ciro Gomes

O pré-candidato a presidente da República, Ciro Gomes, que já foi prefeito de Fortaleza e governador do Ceará, além de ministro no Governo Lula, que deveria encerrar o evento, foi outro que teve o horário de sua apresentação alterada para o meio da tarde. Convidado para falar da Atual Conjuntura Econômica do Brasil, Ciro Gomes dissertou e divagou sobre a economia, mas dedicou sua apresentação à política, procurando mostrar-se como uma alternativa a coxinhas e mortadelas, alguém com soluções ainda não tentadas que darão nova conformação na política e economia nacional.

Questionado sobre a viabilidade de ele implantar seus propósitos se eleito, Ciro lembrou que todos os presidentes, até mesmo Collor, eleito por um minúsculo partido, conseguiu implementar o mais revolucionário plano econômico, colocando o Congresso e o Judiciário de joelhos. Ou seja, nos primeiros meses, seja qual for o presidente eleito, ele tem condições de fazer e acontecer. Mas precisa saber o que fazer, para que aconteça.

Mas, como não podia deixar de ser, o Turismo logo passou a dominar a pauta, com Ciro lembrando que o setor gera empregos qualificados, de uma forma mais barata e mais rápida do que a indústria ou o agronegócio, podendo ser um vetor de desenvolvimento para o país.

Afora demonstrar sua contrariedade com a política de céus abertos e abertura das companhias aéreas nacionais ao capital internacional, quando questionado mais diretamente sobre, por exemplo, o que faria com a Embratur se eleito, Ciro Gomes desconversou, sempre chamando atenção para os exemplos vitoriosos implantados no Ceará nos últimos anos: “reitero que precisamos ter infraestrutura, porque praia bonita tem em todos os lugares. No Ceará estamos avançando porque temos infraestrutura compatível, saneamento básico e zoneamento definido”, enfatizou Ciro Gomes.

ENCERRAMENTO

Às 20h30, um Manoel Linhares emocionado encerrou o evento, falou de seu esforço para colocar o evento de pé em apenas 120 dias, lembrou que visitou 21 estados nesse período, agradeceu a todos que o apoiaram e reclamou (com razão) do abandono a que um presidente de entidade é relegado por seus pares. Um jogo que, jogado em conjunto, seria mais exitoso e menos traumático para o presidente. Mas esse, infelizmente, é um mal que assola a grande maioria das entidades nacionais. Muito satisfeito com o sucesso do Conotel 2018, o Baixinho conclamou todos a estarem em Goiânia no ano que vem, prometendo fazer o mesmo esforço para garantir o sucesso da Conotel 2019.

  • Sergio Junqueira Arantes, CEM publisher da Revista Eventos e do Portal Eventos viajou a convite da ABIH Nacional.