Causa espécie que uma atividade que viceja ao arrepio da
legislação brasileira mantenha-se em ostensiva atividade, sendo até mesmo
recebida por nossas autoridades.
Sua empáfia é tão grande que não se peja de contratar o
principal executivo da entidade que congrega seus oponentes. Não se envergonha
sequer quando apresenta pesquisas adrede encomendadas e ainda assim distorce
seus resultados.
Evitamos ser pessimistas, mas no embate resorts versus
cruzeiros, a irresponsabilidade governamental acarretará na temporada 2009/2010
sérios prejuízos ao turismo brasileiro.
Vamos aos fatos:
Os hotéis e em especial os resorts são investimentos de
maturação de longo prazo que requere recursos vultosos, gerando desenvolvimento
socioeconômico e cultural em todas as fases de seu processo de instalação e
funcionamento.
Hoje, centenas de empreendimentos estão espalhados pelo
litoral brasileiro e, também, no interior do país.
Em muitas localidades, para se instalarem hotéis e resorts
tiveram que desenvolver atividades na educação da população do entorno e, muito
especialmente, ensinar à família de seus empregados princípios básicos de
educação, asseio e limpeza, além de atenderem a rigorosos requisitos ambientais.
Foi dessa forma que formaram uma mão de obra hoje qualificada
que já somam cerca de um milhão de profissionais, que trabalham os 365 dias do
ano.
E quando chega a alta temporada, outras centenas seriam
contratados para atender aos milhares de turistas brasileiros que passariam suas
férias em hotéis e resorts nacionais.
No entanto, infelizmente, possivelmente isso não acontecerá,
uma vez que para o próximo verão já está anunciado que 18 navios farão cabotagem
no litoral brasileiro. Ou seja, 10% mais do que no ano passado, três vezes mais
do que na temporada 2005/2006.
A oferta de leitos será da ordem de 600.000, que mantidos os
parâmetros dos anos passados, terão ocupação de 85% de brasileiros. Ou seja,
mais de 500.000 brasileiros na temporada, mais de 150.000 por mês.
Para atender a essa massa de turistas, os cruzeiros estarão
contratando cerca de 3.000 empregados brasileiros. Parece brincadeira, mas não
é. A média de funcionários brasileiros é de apenas 175 por navio. Se
considerarmos que cada navio hospeda cerca de 30.000 turistas por temporada,
teremos uma média mês de 60 passageiros por funcionário, ou seja, um funcionário
para cada 30 cabines.
Enquanto isso, nos resorts a média de um funcionário por
apartamento.
Para que a dimensão do desastre seja melhor avaliada, vale a
pena desenvolver alguns exercícios econômicos financeiros.
Considerando-se que na ausência dos navios, 30% de seus
passageiros optariam por um resort para suas férias de verão, a temporada de
verão da hotelaria nacional teria mais 200.000 hospedes, gerando cerca de um
milhão de pernoites.
Considerando-se uma média de consumo diário deste hospede da
ordem de R$ 350,00 o prejuízo causado ao turismo nacional é da ordem de R$350
milhões.
Ainda segundo dados do setor, para atender estes 200.000
hospedes a hotelaria nacional teria que contratar 10.000 novos funcionários. E
seria evitada a dispensas de milhares dos atualmente empregados.
Considerando-se apenas os resorts, o atendimento desses
200.000 hospedes ocuparia cerca de 50% dos leitos disponíveis em todo Brasil.
Observados todo o acima exposto, é inadmissível que até o
momento nenhuma providência tenha sido tomada. Desde que os cruzeiros invadiram
os portos brasileiros muito se falou, muito se discutiu, muitas reuniões se
realizaram e nada se resolveu.
A cada ano a quantidade de navios cresce e o prejuízo para o
turismo brasileiro aumenta. O Ministério do Turismo que deveria trabalhar na
salvaguarda dos interesses do turismo brasileiro permanece inerte. Mas a culpa
não é só dele. O brasileiro desaprendeu de lutar por causas que não atendam seus
interesses mais imediatos. Todos os desmandos são praticados publicamente sem
que ninguém reaja. O brasileiro perdeu a fé, não mais acredita em sua capacidade
de alterar o rumo dos acontecimentos. As muitas desilusões do passado recente o
fizeram descrente. Pior ainda, cada vez mais brasileiros estão com o rabo preso,
suas lideranças cada vez mais comprometidas, impossibilitadas, quiçá
desinteressadas, de falar, reagir e lutar pelos legítimos interesses nacionais.
Mas não devemos esmorecer. Devemos acreditar que a luta ainda
é possível e que é dever de todos lutar por um Brasil melhor. E propor saídas
para os impasses criados pelos interesses muitas vezes escusos travestidos de
legitimidade.
A exemplo das principais entidades do turismo norte-americano
que se uniram contra os desmandos de seu Governo (ver Editorial), é hora da
cadeia produtiva do turismo nacional, liderada pela Resorts Brasil, a ABIH e o
FOHB trabalhar por uma agenda mínima junto ao Ministério do Turismo e ao Governo
Federal, não no sentido de proibir a atividade dos cruzeiros de cabotagem em
território brasileiro, mas de uma regulamentação que torne esta atividade
legitima e que passe a atender aos melhores interesses nacionais:
A atividade de cabotagem no litoral brasileiro somente deve
ser autorizada para navios que permaneçam no país o ano inteiro;
Mais de 50% do quadro de funcionários do navio deve ser
constituído por brasileiros, contratados em obediência à legislação trabalhista
nacional;
Mais de 50% do material consumido no navio deve ser de origem
brasileira;
Toda receita auferida nos cruzeiros deve ser taxada de
conformidade com a legislação tributária nacional;
A abertura dos cassinos e free shops em águas brasileiras
deve ser rigorosamente fiscalizada, quando ocorrer, severamente punida;
Incentivar a captação de turistas estrangeiros, mediante
abatimento da carga tributária;
Descentralizar o embarque dos cruzeiros marítimos pelos
principais destinos turísticos nacionais, atendendo no mínimo 12 cidades;
Desenvolver operações casadas, incentivando os passageiros de
navios a permanecer no Destino em que irão embarcar pelo menos duas noites.
Sergio Junqueira Arantes
Sergio@ExpoEditora.com.br
Diretor
da Eventos News, do Portal Eventos, da Revista Eventos e da Making Of
Titular
da Cadeira 1, da Academia Brasileira de Eventos
Vice-presidente da ANETUR - Associação Nacional dos Editores de Turismo
Member
MPI Brazil Chapter - Meetings Professionals International
Membro do
IBEV Instituto Brasileiro de Eventos
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