Design, Otimismo e Histórias

Falo aqui, de um lugar talvez monótono de designer que atende a indústria de bens de consumo. Acompanhei recentemente os eventos Pentawards em Londres (maior festival/premiação de design de embalagens do planeta) e do Web Summit em Lisboa (um dos maiores eventos sobre o futuro e a indústria da tecnologia).
Daniel Fish, CCO da Raison Pure

Falo aqui, de um lugar talvez monótono de designer que atende a indústria de bens de consumo. Acompanhei recentemente os eventos Pentawards em Londres (maior festival/premiação de design de embalagens do planeta) e do Web Summit em Lisboa (um dos maiores eventos sobre o futuro e a indústria da tecnologia).

E o que vejo em comum entre esses dois eventos? A Complexidade.

Inteligência artificial é o tema da vez, e suas aplicações saltam aos olhos. Exterminador do futuro feelings por um lado, guerras, reconstrução, crise climática. E o ser humaninho dando piruetas para lidar com tudo isso.

Especulando das mais diversas formas: desde a ação de protesto no Web Summit, onde ativistas fingiram ser da Adidas e forjaram uma pseudo Adi-Coin para denunciar o trabalho infantil, às inúmeras teorias de futuro, até jabás descarados, como o da Microsoft, que falou e não disse nada sobre a crise climática.

Nota-se a maioria esmagadoramente branca e masculina (58%) do evento. Há pequenas iniciativas de inclusão, como o Color in Tech, de Ashleigh Ainsley, que promoveu uma divertidíssima masterclass, trazendo 15 gen Zs de diversas nacionalidades para o palco para um diálogo aberto (e, honestamente, bastante revelador) com declarações do tipo: “Claro que eu quero trabalhar no escritório, quero conhecer as pessoas, me relacionar“.

Ainda no tema Gen Z, Jay Richards trouxe outras revelações baseadas em pesquisas, como, por exemplo, 72% dos entrevistados não têm nem pretendem ter um equipamento de VR.

Mas o que me chamou mais a atenção foram as abordagens, de certa forma otimistas, e que discutem nossa frágil relação humana com tudo isso: a palestra de Stefan Sagmeister, em Londres, trouxe, baseado em estatísticas, a melhoria das condições humanas nos últimos 200 anos, e, como a rapidez e natureza negativa das notícias não nos permite perceber esse avanço.

Kris Keiller, da Patagonia, propôs uma revisão estética, construindo lojas com materiais reutilizados inúmeras vezes. E não é que fica lindo mesmo?

No Web Summit, Cassie Kozyrkov (ex-Google) pontuou como por trás de todo AI tem um ser humano tomando decisões estratégicas, e falou sobre a habilidade de… decidir, sim! Colocar as cartas na mesa e ponderar com nossa inteligência humana old school que rumo as coisas tomam dentro das empresas.

Ambarish Mitra trouxe o conceito de Waste Intelligence, onde robôs com AI automatizam a reciclagem, ampliando seu potencial de rastreio, mapeamento e geração de valor. E Michael Geer, que trabalha em criar a worldwide web da saúde, baseado em sua tese de que todos os dados de saúde que precisamos já estão em nosso planeta.

O mais curioso é que, na maioria dos speakers, apresentações e pitches, poucos conseguem "empacotar" as mensagens de forma simples e encantadora (especialmente no visual).

Aí que a gente entra. Fica o convite aos colegas designers e profissionais de criação: que tal deixarmos um pouco de lado nossos air pods ou similares com o perfeito isolamento antirruídos e buscarmos novos diálogos?

Temos um potencial unificador, de contar histórias de forma visual e simples. Podemos aproveitar a proximidade que temos com as grandes empresas, que nos permitem propor mudanças vindas "de dentro". Explorar mais o mundo da tecnologia, das startups e as oportunidades de AI de construir novos futuros: mais sustentáveis, justos, diversos e humanos.

Oportunidade de "tornar o futuro irresistível" como disse Brian Collins. Mas com a sensibilidade de entender o momento em que vivemos. Irresistível e sensível, para muitas pessoas.

Vamos falar sobre os vários elefantes na sala! Mas de uma forma positiva e encantadora.

Sustentabilidade “for real”? Inclusão? Paz? Novas temáticas podem agregar ao resultado criativo mais que a estética, mais que o “disruptivo” ao olhar de outros criativos ou jurados.

Histórias encantadoras sempre tiveram potencial de movimentar os humanos. Pense em Martin Luther King sem seu lendário discurso lapidado à exaustão. Ou em Frida Kahlo sem sua narrativa visual.

Qual provocação você pode trazer na sua próxima apresentação? Qual discussão a mais podemos promover?

Ah, os air pods são realmente incríveis!

*Daniel Fish é CCO da Raison Pure, empresa do Grupo Team Creatif

Fonte: Be On Press