EMBRATUR - Porque brigar por R$400 milhões do Sebrae, se pode ter R$1,5 bilhão da Taxa de Turismo?

Se é verdade que a Embratur precisa ser abastecida de fundos para fazer frente à concorrência internacional, o caminho escolhido não se mostra o mais adequado.

"Pensar pequeno e pensar grande dá o mesmo trabalho."
Jorge Paulo Lemann

A imprensa noticiou nos últimos dias o esforço do ministro do Turismo, Max Beltrão, para transformar a Embratur em Abratur (Agência Brasileira de Turismo), forrando seus cofres com verbas que seriam desviadas do Sebrae.

Se bem que a transformação em Agência seja um anseio e uma solução adequada, a tentativa de uso dos fundos do Sebrae se mostrou desastrosa, não só porque desvestiria um santo, para vestir o outro, mas também pela reação que despertou e que resultou num manifesto encabeçado pela CNI e endossado por mais 20 entidades empresariais.

O imbróglio provocou uma reunião no Palácio do Planalto com participação dos ministros do Turismo, Max Beltrão, e da Casa Civil, Eliseu Padilha; do presidente da Embratur, Vinicius Lummertz, e do presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos. Realizada na semana passada, a reunião não conseguiu dirimir as divergências, com o presidente do Sebrae mantendo-se irredutível na defesa dos interesses do Sebrae, salientando os muitos serviços que presta ao Turismo, em todas suas regionais, e os enormes prejuízos decorrentes do cancelamento de projetos que beneficiam micro e pequenos empresários de todo país.

Se é verdade que a Embratur (ou Abratur) precisa ser abastecida de fundos para fazer frente à concorrência internacional, o caminho escolhido não se mostra o mais adequado.

Na semana passada, neste mesmo espaço propusemos a criação do Sistema T, abrangendo e municiando de fundos não só a Embratur, mas também as Secretárias Estaduais e Municipais de Turismo e os Convention Bureaux.

A proposta reconhece a importância de um Sistema que fortaleça não só o órgão federal, mas também os estados, municípios e a iniciativa privada, representada pelos CVBX. E, principalmente, sem fazer uso de verbas públicas, uma vez que todo sistema seria abastecido por uma Taxa de Turismo paga pelos usuários de hotéis, restaurantes e bares de todo país, a exemplo do que é feito nos EUA, Europa e diversos países latino-americanos.

Na proposta objeto de discussão em Brasília, a Embratur pretendia que R$400 milhões de verbas que seriam destinadas ao Sebrae, fossem redirecionadas para a Agência que seria criada.

Se fosse adotada a proposta da Taxa de Turismo, o Sistema T teria potencial de arrecadar R$5,7 bilhões, considerando que o setor de Bares e Restaurantes têm uma receita anual de R$228 bilhões (Abrasel) e a Hotelaria, R$47 bilhões (FOHB).

Se a distribuição da arrecadação da Taxa de Turismo fosse feita como sugerido, 25% para Embratur, 25% para Secretaria Estadual, 25% para Secretaria Municipal e 25% para o Convention Bureau, caberia à Embratur R$1,4 bilhões, ou seja, UM BILHÃO DE REAIS mais do que pretendia subtrair do Sebrae.

A importância da capilaridade da distribuição das verbas arrecadadas através da Taxa de Turismo ressalta pois dessa forma não só a Embratur teria força para disputar os turistas de todo mundo, mas também os estados, municípios e cvbx estariam capacitados a se incorporar à essa luta.

Anualmente, mais de 1 bilhão de turistas se deslocam pelo mundo em busca de novos horizontes, culturas e conhecimentos. País que detém a primazia nos atrativos naturais e que recém protagonizou os dois maiores eventos mundiais (Copa do Mundo e Olimpíada), o Brasil figura em 44º lugar no ranking dos países que mais recebem turistas. Uma vergonha.

Para fazer frente à verdadeira guerra travada globalmente na conquista destes turistas, batalha que é travada com pesados investimentos dos diversos países, estados e cidades que disputam um lugar melhor no ranking, o Brasil precisa se armar de muito dinheiro, mas também de um verdadeiro exército de embaixadores do turismo brasileiro, juntando forças não só a Embratur, mas as secretarias estaduais e municipais e, principalmente, os convention bureaux, para ocupar todos os espaços disponíveis seja nas feiras e na imprensa internacional, seja através de escritórios (Casa Brasil) espalhados nos principais emissores de turismo do mundo.

O Brasil precisa, não de um simples batalhão (Embratur), mas de um verdadeiro exército, reunindo todas as forças nacionais na conquista do turista internacional.