Uma Triste Experiência em Construção by Brasil

Parabéns ao Corpo de Bombeiros por não se deixar intimidar e até mesmo a prefeitura, que dessa vez, não titubeou e prezou pela ordem, justiça e segurança. Esse é o Brasil que precisamos acreditar que existe...

Um projeto da magnitude da concessão do estádio do Pacaembu em São Paulo é algo que demanda muita responsabilidade, seriedade e comprometimento com tudo: pessoas envolvidas, planos previstos, atenção a governança, respeito a memória, apenas para citar alguns dos valores que devem estar em pauta e orientar suas ações.

Para contextualizar a importância do Pacaembu é importante salientar que o local, cujo nome oficial é Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, é considerado como um dos pontos turísticos mais importantes de São Paulo e foi privatizado, por meio de um projeto de concessão de 35 anos, com investimentos de R$ 600 milhões em sua reforma, visando tornar-se um dos mais modernos do Brasil, com características de complexo equipado para o esporte, lazer e cultura, segundo a empresa à frente da reforma, a Concessionária Allegra Pacaembu.

As obras incluem a modernização e restauro do estádio, com capacidade de abrigar 25 mil pessoas e criação de um espaço para eventos no subsolo para até 8.500 pessoas.

Além de receber jogos de futebol, o projeto conta com novas opções para esportistas: um ginásio poliesportivo para 3 mil pessoas, uma quadra de tênis, e também uma piscina olímpica que poderá ser usada para outras modalidades.

Além disso, há também uma proposta de modernizar e abraçar os eSports (jogos eletrônicos), e para isso, será criada a maior arena Battle Royale do mundo sob as arquibancadas.

A construção do edifício multiuso deve utilizar o espaço onde ficava um tobogã anteriormente (na arquibancada sul) e irá integrar diferentes partes da arena, entre elas um Boulevard. A ampliação é de cerca de 40 mil m² de novas áreas – o que levará o Pacaembu a ser capaz de receber até 60 mil pessoas simultaneamente.

No início do ano, o Pacaembu fez um acordo com o Mercado Livre para a venda de naming rights por R$ 1 bilhão – que ficou conhecido como a maior negociação do tipo para um estádio de futebol.

Algo realmente suntuoso, porém, de um dia para o outro o projeto tão bem comentado e esperado com muita ansiedade pelo mercado, se viu ganhando notoriedade de forma muito negativa pois teve seu evento, de pré-inauguração como foi divulgado, com um show de Roberto Carlos, no dia do seu próprio aniversário de 83 anos, com 99% dos ingressos vendidos, cancelado por não atender a cerca de 18 premissas de segurança

O que já é algo surreal para um projeto com investimentos dessa envergadura, o que nos faz refletir que há muito amadorismo na gestão desse quesito, afinal tantos meses de planejamento como pode não ter dito a iniciativa de contratar uma empresa de bombeiro civil para realizar uma espécie de auditoria e, assim, certificar-se que estava em conformidade com as leis e normas de segurança vigentes no pais?

O imbróglio foi ainda pior, pois acompanhamos um verdadeiro caos, no qual os agentes envolvidos não se acertavam na informação, uma hora diziam que estava cancelado, outra que estava mantida.

A real situação é que o veredicto final só foi dado a menos de duas horas dos portões serem abertos ao público, o que levou muita gente só realmente ter a notícia concreta, quando já estava a frente da entrada do estádio. Cerca de 3 mil pessoas eram aguardadas para o evento.

A prefeitura chegou a ir ao estádio para interditá-lo após a insistência da empresa em manter o show, mesmo com veto. Por volta das 17h10, viaturas da GCM e da PM, além de funcionários da subprefeitura da Sé, chegaram ao estádio com placas de interdição. Ninguém quis falar com a imprensa no portão principal. Assim que a concessionária confirmou o cancelamento do show, às 17h30, os funcionários da prefeitura deixaram o local.

Vale salientar que a fiscalização inicial ocorreu na quinta, (18), quando os bombeiros já tinham oficiado a prefeitura alertando sobre os riscos e pedindo o cancelamento do evento.

No pedido enviado à Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL), os bombeiros informaram que o espaço Mercado Pago Hall apresentava 18 irregularidades na edificação que seria inaugurada na sexta (19), com o show do Rei.

O show seria o primeiro evento que a Mercado Livre Arena Pacaembu receberia e é resultado da parceria com a Four Even, fundo de investimento especializado em entretenimento, que firmou um acordo com Allegra Pacaembu, ainda em 2023, que prevê a realização de 80 eventos por ano, por dez anos.

Segundo os Bombeiros, o evento não estava em conformidade com as normas de segurança estipuladas pelas autoridades competentes, uma vez que o local não apresenta os requisitos de segurança obrigatórios para a realização do concerto e não possui licença expedida pelos Bombeiros. Além disso, a Allegra, ainda de acordo com os Bombeiros, não teria solicitado a vistoria dentro do prazo exigido por lei.

Vamos aos tópicos mais essenciais relacionados a essa vistoria e que já nos arrepia, só de saber que não estavam previstos para um evento desse envergadura:

Falhas de segurança citadas pelo Corpo de Bombeiros

Casa de bombas de incêndio não estava compartimentada;

Não havia dados de vazão e pressão das bombas de hidrante e chuveiros automáticos;

O sistema de hidrantes estava despressurizado;

As caixas de elevadores estão abertas, não foram instalados e não estão compartimentados;

Havia rotas de fuga obstruídas por andaimes instalados no piso de descarga;

Os sistemas de ventilação e extração de fumaça não foram instalados;

Os dutos de ventilação não estavam instalados;

As portas de corta-fogo previstas em projeto não estavam instaladas.

Realmente, não há o que dizer, só lamentar. Me fez lembrar o último show de Gal Costa, que assisti por lá, em 2022, cujo caos foi total, quase me fazendo dar meia volta.

E parece que não conseguiram evoluir...

A pergunta que fica é : e agora ?

Emitir notas frias, equivocadas e sem verdade não sustentam posturas amadoras.

Como um pool de empresas, cuja reputação era até elevada, pode justificar tais comportamentos amadores e soberbos?

Como brincar com a vida de pessoas? Como ignorar leis? Como depreciar sonhos de pessoas?

Não... não quero e não posso acreditar que as marcas envolvidas estejam como cúmplices dessa história tenebrosa.

Precisamos de explicações plausíveis e pragmáticas.

Precisamos de honestidade e esforços no atendimento de incumbências.

Precisamos acreditar que o compliance prevalece.

Precisamos confiar nas palavras e ter atitudes que demonstrem isso.

Precisamos honrar nossas palavras.

Precisamos de ética.

Parabéns ao Corpo de Bombeiros por não se deixar intimidar e até mesmo a prefeitura, que dessa vez, não titubeou e prezou pela ordem, justiça e segurança.

Esse é o Brasil que precisamos acreditar que existe...

Que as dores das lições com esse caso bizarro sejam sentidas, curadas e que possamos realmente ter orgulho de novamente pisar no Pacaembu, com toda a segurança que nos é de direito!