Impactos Econômicos do Novo Coronavírus na Dinâmica do Turismo Global

O avanço do Novo Coronavírus pelo mundo já começa a ter consequências para diversas áreas da economia, especialmente para o setor de turismo. Se por um lado o gigantismo da China tem contribuído de forma positiva para o crescimento do turismo mundial, por outro lado, em situações adversas, como o caso atual da epidemia do Novo Coronavírus, os impactos negativos decorrentes podem representar uma ameaça para o turismo global.

O avanço do Novo Coronavírus pelo mundo já começa a ter consequências para diversas áreas da economia, especialmente para o setor de turismo. A participação da China no PIB mundial, em 2018, correspondeu a 15,84% (US$ 13,608 trilhões) do total do que foi produzido no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, que, neste mesmo ano, contabilizou cerca de 23,91% (US$20,544 trilhões) da produção mundial. Do ponto de vista do setor de turismo, a China tornou-se, nos últimos anos, o principal mercado emissor de turistas do mundo, passando de 4,5 milhões em 2000 para 150 milhões em 2018, segundo dados da Organização Mundial do Turismo. Em termos do total dos gastos dos turistas no mundo a China também é responsável pela maior fatia, alcançando 16% do total gasto neste mesmo ano, o que corresponde a US$277 bilhões.

Se por um lado o gigantismo da China tem contribuído de forma positiva para o crescimento do turismo mundial, por outro lado, em situações adversas, como o caso atual da epidemia do Novo Coronavírus, os impactos negativos decorrentes podem representar uma ameaça para o turismo global. Para se ter uma ideia, no início de fevereiro 38 empresas aéreas já haviam cancelado voos para a China, sendo o setor de transporte um dos primeiros a serem afetados pelas consequências negativas que a epidemia do vírus está causando.

Recentemente, a área financeira da Disney divulgou que prevê perdas financeiras no valor de US$ 175 milhões, relativas, especificamente, aos parques sediados em Xangai e em Hong Kong. De acordo com a empresa, não deve haver impacto nos parques dos Estados Unidos, tendo em vista a baixa participação dos chineses na visitação destes atrativos.

Os principais mercados receptores de turistas chineses já sofrem as consequências dos cancelamentos de viagens. A maioria dos destinos asiáticos que recebem turistas chineses já está sofrendo com a proibição de viagens ao exterior. Países como Austrália, Tailândia, Coréia do Sul, Malásia e Vietnam devem sofrer consequências maiores por conta da dependência da demanda turística proveniente da China. No caso do Japão, especialmente, que sediará as Olimpíadas de 2020, e que atualmente recebe cerca de 9 milhões de turistas chineses, existe uma grande preocupação sobre as repercussões negativas no fluxo turístico durante as Olimpíadas. ´

É importante ressaltar que outros mercados turísticos poderão ser afetados, mesmo que não tenham grande dependência do turista chinês. Uma maior sensação de insegurança associada à facilidade de transmissão do vírus durante o processo de viagem podem desestimular o fluxo de viagens internacionais.

Os impactos econômicos negativos vão além da perda de receita gerada pelos fluxos de viagens internacionais. Com a redução nas relações comerciais da China com o resto do mundo, toda a cadeia produtiva pode ser afetada, reforçando o impacto negativo inicial. A força e a profundidade destes impactos irão depender da duração e da eficácia no combate ao vírus e sua propagação.

No caso do Brasil, a participação de turistas chineses no total de turistas internacionais não chega nem a 1% do fluxo total, correspondendo a aproximadamente 56 mil turistas por ano. No entanto, o país poderá ser afetado, principalmente, pela possível redução do fluxo turístico global. Como toda crise, pode haver uma oportunidade maior dos brasileiros viajaram internamente, aquecendo o turismo interno. Teremos que aguardar o desenrolar dos acontecimentos futuros para medir, com maior precisão, suas consequências no turismo e na economia como um todo.

*Este artigo foi redigido em parceria com o Prof. Dr. João Evangelista Dias Monteiro (Faculdade de Turismo e Hotelaria/Universidade Federal Fluminense)