Po..., ninguém lê

Nas escolas ninguém lê porque os professores não lêem, decoram e mostram o livro. Nas Universidades ninguém lê porque os trabalhos vem da Internet, do Google para ser exato, onde o resumo já está pronto e o professor não lê mesmo o que foi escrito, principalmente se tiver muitas folhas. No Planalto ninguém lê, porque, para ler, é preciso ter, no mínimo, formação e vontade de dividir, pelo menos o conhecimento.

Po..., ninguém lê!

Estava sentado no Cervantes, famoso Bar em Copacabana, no Rio, numa daquelas noites de fim de festa, quando existia o Noites Cariocas no Morro da Urca.

Vínhamos de um show da Fernandinha Abreu, num ritmo Rio 40 Graus.

Minha galera, eu e mais 4 ou 5 pessoas, falávamos de letras de música e lindos textos, como de canções do Chico, Caetano, Ivan Lins e muitos outros, quando ouvi, na mesa ao lado, a seguinte pérola de dois amigos, de uns 21, 22 anos, cada um, por aí:

- Cara, esse restaurante é muito show.

- Num é?

- Só tem um lance muito doido aqui.

- Qual é?

- O cara que fez ele não sabe nada de história.

- Ah é, por quê?

- Olha bem. O nome do restaurante é Cervantes, mas só tem quadro do Dom Quixote, pode?

E riram da burrice do “cara” que fez.

Minha vontade foi dar uma de professor de Literatura e dizer o óbvio, mas me aquietei quando pensei que estamos no País em que ninguém (sei que é exagero, mas é pra ser enfático e dramático) lê.

Enfim, fiquei eu com o Dom Quixote na cabeça e o Cervantes no estômago e a certeza de que temos uma geração que não encontra nas palavras o caminho de sua libertação e cidadania. Que não conhece Cervantes, Shakespeare, Pessoa, Drummond, Bandeira, Castro Alves, Machado de Assis ou mesmo Paulo Coelho, vá lá.

A geração que espera os filmes para falar dos livros como se a visão de um único leitor pudesse transformar em imagens a emoção de um texto, com suas múltiplas interpretações e viagens.

Aí decidi escrever uma novela, um livro, e pô-lo no Faceboock, na vã esperança de que o texto digital resgate a emoção da leitura. Sou bobo e cheio de esperanças!

Porque sei que a verdade é que vai ter muita gente, ainda, olhando pra os Cervantes e vendo os Dons Quixote, brigando com seus moinhos de vento, mas lendo e se aprofundando? Quem?

Enquanto isso, os sonhos e as realidades que os livros nos ajudam a construir estão morrendo... Cadê Alice, Bentinho, Dona Benta, o Príncipe, Peter Pan...

Porra (ia falar pombas, mas não resisti, desculpem o mau jeito), ninguém lê de verdade. Que ruim!

Ai. Tô me sentindo o Cervantes.... ou o Dom Quixote?